Doria tenta eliminar Eike de sua biografia porque se enxerga nele. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 31 de janeiro de 2017 às 23:26
Eles
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João Doria apagou os elogios que fez a Eike Batista nas redes sociais. Em 2011 e 2012, dirigiu vários encômios ao empresário.

“Se privatizar e Eike administrar, vai melhorar!”, escreveu no Twitter.

Eike foi homenageado por sua empresa Lide com o prêmio “empreendedor do ano”. O almoço com ele foi uma “lição de eficiência e otimismo”.

A assessoria do prefeito de São Paulo está tentando também tirar do YouTube uma entrevista de seu programa Show Business.

Nela, Doria, pegajoso de carpete, diz que “o Rio é do Brasil e o Eike também é do Brasil”. Sobre Sérgio Cabral, afirma que é amigo dele “desde menino”.

Doria estava fazendo o que sempre fez: bajulando o poderoso de ocasião e tentando faturar. Mas o revelador de seu caráter e de seu estilo de gestão é a tentativa desesperada — e, de resto, inútil — de apagar o passado.

Doria poderia alegar que foi enganado por Eike. Ponto. Estaria em seu direito, já que todo o mundo foi enganado por Eike.

Em 2012, Eike apareceu como o oitavo homem mais rico do mundo em uma lista da Bloomberg. Garantia que assumiria o topo do ranking em 2015 ou 2016.

Vivíamos tempos de otimismo, de pré-sal, de futuro brilhante, de Brics. “O Eike é nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil”, afirmou Dilma.

A Veja deu uma capa com o ex-marido de Luma vestido de Deng Xiaoping, triunfal, símbolo de uma nova geração de bilionários nacionais.

A revista Alfa, sob minha direção, também estampou Eike na capa (seu assessor me contaria, anos depois, que viu o chefe chorar no banheiro numa reunião com seus acionistas quando a derrocada ficou inevitável).

Eike representava um sonho — jeca, admitamos — de que o brasileiro podia chegar lá. Como os chineses, tínhamos um compatriota entre os top 10 da Forbes dos homens mais ricos do planeta. Em 2013, ele já era fumaça.

A bolha Eike era uma pirâmide da qual milhões fizeram parte porque quiseram acreditar em sua fábula. Erramos. Acontece. Os americanos tiveram Bernie Madoff.

Que sentido faz, agora, lincha-lo? Virou nossa especialidade? A Globo, que ajudou a montar o heroi, como fez com Cunha, não tira do ar a cena dele entrando num carro de cabeça raspada. O tamanho de sua cela e as companhias viraram fetiche.

Doria não vai eliminar de sua biografia as cenas como puxa saco de Eike Batista. Sua correria para tentar dar sumiço nesses rastros levanta apenas as suspeitas sobre essa relação que parecia íntima.

Quem pagou a conta? Que negócios foram fechados?

Doria quer se livrar disso porque sabe que Eike Batista, como ele, era uma farsa montada num marketing eficiente, mas de curto prazo, surfando numa circunstância especial — como o ex-amigo.

A diferença entre os dois, basicamente, é a peruca.

 

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