Doria traiu a PM no caso de Paraisópolis por cálculo político. Por José Cássio

Atualizado em 10 de dezembro de 2019 às 20:01
João Doria em convenção do PSDB

Não é a primeira vez, mas com certeza a mais acintosa.

Depois de defender a PM no caso do massacre de Paraisópolis – chegou a dizer que “a letalidade foi provocada por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo baile funk” -, o governador João Doria deu meia volta e, num cálculo político indecoroso, apunhalou a corporação pelas costas.

Optou por correr o risco da decisão após assessores próximos dizerem a ele que a defesa da ação policial não estava emplacando nem mesmo junto aos seus eleitores mais fiéis.

Foi o suficiente para cumprir com a sua sina de não manter a palavra dada: nesta segunda, ordenou o afastamento de mais 32 policiais do destacamento, ainda que, segundo o UOL, a investigação interna deva ter como principais alvos apenas os seis que entraram no bairro, por, supostamente, terem sido eles os provocadores do tumulto.

Doria já deu pirueta, inventou uma comissão para se entender com os moradores e apontar soluções para melhorar o bairro, criando opção de lazer para os jovens, mas o que fica do episódio é a frieza de um governante que só pensa na próxima eleição e no cálculo para se dar bem nas urnas.

Geraldo Alckmin que o diga.

Foi o ex-governador de SP que o tirou da cartola. Alertado, foi. Mas desconsiderou todos os conselhos que recebeu para lançar o marqueteiro à prefeitura de São Paulo na ilusão de pavimentar seu caminho à presidência da república.

Traído na primeira curva, Geraldo teve a reputação eleitoral dizimada com as insistentes investidas do pupilo para tomar o seu lugar no PSDB.

Doria ainda trairia os paulistanos ao abandonar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado.

Pagou caro por isso: no segundo turno da eleição, tomou uma surra do inexpressivo Márcio França na capital.

Levou o governo na ‘bacia das almas’, numa eleição em que todos os institutos de pesquisa davam como certa a sua derrota.

O que ficou daquele momento é o retrato que vai se construindo agora para o gestor: na manhã do sábado antes do segundo turno, um Doria quase solitário – não havia um líder sequer do PSDB com ele -, zanzava a ermo pela zona Sul de São Paulo pedindo votos num cenário que se anunciava como fracassado.

O destino acabou dando a ele a primeira chance com a vitória que ninguém acreditava.
Agora é que são elas. Em sete dias de crise com o massacre dos 9 jovens, pintou o diabo, para chegar ao final mostrando que não mudou nada: traiu os PMs, jogando para cima deles uma responsabilidade que é sua, na qualidade de comandante da segurança e principal orientador da política da violência.

A questão que fica do novo episódio tem relação com o início da sua vida pública e os quase quatro anos entre 2016 até aqui: até quando o eleitor vai continuar tolerando as mentiras e traições do gestor?