“Drácula”, da Netflix, é a adaptação mais vagabunda da história do velho vampiro. Por Roger Worms

Atualizado em 7 de fevereiro de 2020 às 16:02

Eu deveria ter uns 5 ou 6 anos quando vi anunciado o clássico “Drácula”, com Bela Lugosi, e fiquei fascinado com suas magnéticas expressões e trejeitos.

O debut foi tão impressionante que tenho cenas ainda muito frescas em minha memória.

As aranhas e seus enormes traseiros sendo devoradas por um advogado escravo, sedento e famigerado, rastejando em cantos empoeirados do castelo na Transilvânia atrás de araquinídeos bundudis, como diria Muçum.

Sim, foi marcante e deveras assustador.

O oposto dessa série ridícula da Netflix.

O Drácula bonitão fica devendo sustos.

Sua algoz Van Helsing (sim, agora o professor é uma mulher, uma licença politicamente correta que não muda a ruindade da coisa), bisneta do bom e velho caçador, é subserviente aos caprichos do Dentuço Carniceiro, que se vale de suas magias para seduções mil.

Uma escatologia acima do normal. É preciso preparar o estômago pois o sangue jorrando é constante e marca de estilo (no mínimo duvidoso) da série.

Uma pretensão imensa no tratar das mazelas e limitações do vampiro quatrocentão dá um ar “modernoso” ao tema.

Em determinado momento fiquei a imaginar o porquê da nova maquiagem e o requentar desse clássico.

O arquétipo do vilão sanguinário povoa o imaginário dos infantes e dos nem tão jovenzinhos assim, uma eterna busca de opções para esse nicho tão rico e vastamente explorado pela psicanálise em seus divãs.

Mas, afinal, onde esses “monstros” se fazem tão necessários ao cinema e artes em geral?

Talvez eles nos deem a opção de materializar os medos obscuros, para então podermos encarar com mais naturalidade e familiaridade os personagens monstruosos de nossa vida real.

Dentro da própria Netflix um dia pôde-se encontrar opções melhores de terror e suspense como a série “Penny Dreadful”, com um enredo sofisticado que mistura personagens clássicos como o próprio Drácula, o Lobisomem, Frankenstein e Dorian Gray, em uma Londres misteriosa e vitoriana.

No Brasil de Bolsonaro, é difícil se assustar com Drácula.