Ambas retratam o surgimento das grandes lojas de departamento.
Duas séries britânicas, de emissoras televisivas concorrentes e temas parecidos, entraram no ar em uma diferença de mais ou menos três meses. The Paradise, da BBC, é uma série de época baseada no romance O Paraíso das Damas, do escritor francês Émile Zola, e conta com atores como Emun Elliott, que fez uma pequena participação em Guerra dos Tronos, Elaine Cassidy, de Fingersmith, e Joanna Vanderham, mais conhecida pela minissérie The Runaways. Se trata de três atores relativamente jovens e promissores, todos inegavelmente talentosos. Mr. Selfridge, da ITV, é a história de Harry Selfridge, fundador da Selfridge’s, uma grande loja de departamentos em Londres. No elenco constam atores mais consagrados e veteranos do que em The Paradise – por exemplo Jeremy Piven, de Entourage, que interpreta o próprio Selfridge, ou Frances O’Connor, atriz anglo-australiana que está no papel de sua esposa.
Ambas as séries foram relativamente bem recebidas, ainda que um tanto criticadas. Como eu disse anteriormente, elas lidam com temas semelhantes – um empresário visionário e carismático abre uma loja de departamento em uma época na qual os cavalheiros e as damas de boa família encomendavam seus trajes em costureiras ou alfaiates. Mr. Selfridge é casado, enquanto Mr. Moray é um viúvo que se encontra, atualmente, noivo da filha de um banqueiro que o patrocina. Ambos vivem romances extraconjugais. Podemos ver por aí que, de algum modo, os personagens também tem muito em comum e podem ser comparados. Tentaremos fazê-lo com o máximo de imparcialidade possível.
Mr. Selfridge e Mr. Moray
O protagonista de The Paradise e o de Mr. Selfridge tem realmente muito em comum. São inteligentes, carismáticos e bem articulados, desfrutam de uma boa aparência e de uma esposa/noiva dedicada, ao mesmo tempo em que as traem com certa frequência. Ambos são o que chamaríamos de “self made men”; ou seja, prosperaram na vida por conta própria. Quanto às atuações, ambas são excelentes. Mas a verdade é que, por mais que Emun Elliott seja mais bonito do que Jeremy Piven, lhe falta o charme, o carisma e o magnetismo do segundo.
Rosalie Selfridge e Katherine Glendenning
A noiva antipática de Mr. Moray e a esposa meiga de Mr. Selfridge tem personalidades opostas; Katherine não mede esforços para conseguir o que quer, mesmo que sacrifique a felicidade de todos que ama e de si mesma, ao passo que Rosalie é o tipo de mulher que está sempre indecisa e que, até o presente momento, não expressa nenhum tipo de determinação. Elaine Cassidy, linda em Fingersmith, não parece estar muito confortável no papel, e Frances O’Connor está bem como a frágil Rose. Mas a maior diferença entre as duas é que, enquanto Mr. Moray faz de tudo para evitar a noiva, Mr. Selfridge realmente adora a esposa.
Agnes Towler e Denise Lovett
Joanna Vanderham está muito bem no papel da loirinha interiorana que acaba de chegar à cidade, vinda de Pebbles. Ainda que tímida, Denise é uma vendedora hábil e, levando-se em conta sua personalidade amável e gentil, não é surpreendente que Mr. Moray tenha se interessado nela. Aisling Loftus, de apenas 22 anos, é a intérprete da reservada e doce Agnes Towler. E, devo dizer, a atuação dela tem sido ótima. A personagem é agradável e singela, e também não espanta que alguns homens tenham mostrado interesse por ela. Uma diferença essencial entre Agnes e Denise é que, embora Mr. Moray tenha capturado o coração de Denise e vice-e-versa, Agnes e Mr. Selfridge não expressaram nenhum interesse romântico um no outro. Ela parece, inclusive, muito mais interessada no amigo francês dele.
Henri Leclair e Dudley
Todo grande empreendedor precisa de um braço direito, não é mesmo? Não é diferente com Moray e Selfridge, e Dudley e Leclair também se parecem em muitas coisas – além de serem, inclusive, levemente parecidos fisicamente. São ambos fiéis e competentes, e tentam, na medida do possível, controlar um pouco os amigos imprudentes. Pois bem, há algumas coisas que diferem o cavalheiro inglês do patife francês, no entanto. Dudley é um camarada sério e ingênuo, além de estar sempre ao lado de Moray. Henri Leclair é voluntarioso e coquete, além de ser meio temperamental e implicar com qualquer pessoa que se oponha a ele. Ainda assim, somos levados à perdoá-lo graças ao seu sotaque francês, e a torcer pelo romance dele com Agnes.
Ellen Love e Clara
Essa é, por assim dizer, uma competição injusta. As personagens em questão pouco têm em comum além de terem compartilhado da cama dos protagonistas. A invejosa e tola Clara foi amante de Mr. Moray na época em que ele estava em luto pela primeira esposa, e foi rechaçada por ele logo depois. Mr. Moray permitiu que ela continuasse trabalhando na loja, contanto que não o procurasse mais. Mas, embora Sonya Cassidy seja uma atriz suficientemente boa e dê conta da personagem, não se iguala a Zoe Tapper no papel de Ellen Love, a modelo e dançarina sustentada por Selfridge. Zoe, mais conhecida por sua atuação no filme Afinidade e na série Desperate Romantics, sobre os pré-rafaelitas, na qual interpretou a esposa de John Millais, declarou que sua maior inspiração para Ellen foi Marilyn Monroe. Isso já é motivo para simpatizar com a personagem – por mais dissimulada que ela possa parecer, não é mesmo?
Selfridge’s e The Paradise (Lojas)
Ambas as lojas são lindas, de maneiras um pouco diferentes. A Selfridge’s tem um estilo um pouco mais formal (no molde atual, é preciso dizer, porque para a época era bastante moderna) e escuro. The Paradise, no entanto, é alegre e colorida. Ambas foram pioneiras em deixar a mercadoria exposta e, por mais que eu seja obrigada a dizer que, se eu fosse consumidora, preferiria fazer compras em The Paradise, acho que a Selfridge’s ganha por existir de verdade.