DW – Terra Yanomami começa a se recuperar com saída de garimpeiros

Atualizado em 22 de julho de 2023 às 20:27
Terra Indígena Yanomami – Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

Na Terra Indígena Yanomami, situada nos estados de Roraima e Amazonas, partes da floresta e das águas começam a dar lentos sinais de recuperação. Seis meses após o início da operação para retirada dos mais de 20 mil garimpeiros, iniciada pelo governo Lula após a situação de emergência vivida pelos indígenas ter vindo a público, as comunidades relatam uma melhora.

“Eu acabo de voltar da aldeia Parafuri e vi que a água está mais limpa, que árvores estão nascendo. Fico muito feliz”, diz Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi Y-Y), à DW.

Na aldeia, garimpeiros aliciavam os indígenas, davam ordens para que agentes de saúde não visitassem a comunidade e chegavam até a dormir nas malocas, habitações típicas.

O prolongado impacto ambiental e na saúde dos yanomami que a extração ilegal do ouro deixa aos habitantes, por outro lado, preocupa as lideranças. Os casos de malária ainda são numerosos e o atendimento médico não chegou a todos no território.

“Temos um problema muito grande na questão da saúde que ainda está longe de se resolver. Ainda há muitas crianças desnutridas, muitos casos de malária. Há comunidades que ainda enfrentam problemas psicológicos, traumas”, relata Jínior.

Na aldeia de Surucucu, onde um hospital de campanha foi montado e que concentra os atendimentos emergenciais, havia 146 indígenas internados no momento da visita do Condisi Y-Y, no início da semana.

Operação de retirada dos invasores

Jair Schmitt, chefe da fiscalização ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), reconhece que há muito a ser feito para livrar a TI Yanomami dos invasores.

“Tem muito suprimento ainda sendo levado de avião, alguns inclusive transpondo fronteira, usando parte da Venezuela. É preciso ter atuação mais forte no controle do tráfego aéreo, que permite levar suprimento e retirar ouro e cassiterita por parte dos garimpeiros”, diz Schmitt à DW, ressaltando que o controle de fluxo aéreo não é atribuição do Ibama.

Segundo o monitoramento feito pelo instituto, houve uma redução de 82% de abertura de novas áreas de garimpo de fevereiro a junho, em comparação com mesmo período do ano anterior. “Mas ainda há regiões com garimpeiros lá dentro, o que precisa ser combatido”, afirma Schmitt.

Indígenas Yanomami formam a frase "Fora Garimpo" no interior da maloca na aldeia Watoriki
Indígenas Yanomami formam a frase ‘Fora Garimpo’ durante o primeiro Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana realizado na aldeia Watoriki – Foto: Victor Moriyama

Durante os seis meses de operação na TI Yanomami, o órgão destruiu 23 aviões, dois helicópteros e 335 acampamentos usados pelos garimpeiros. Foram apreendidos 28 mil litros de combustível, 226 motores usados para fazer a extração do ouro e 30 embarcações.

Com a abertura de uma nova base, na aldeia Homoxi, que fica próxima à fronteira com a Venezuela, a expectativa é que os agentes tenham melhores condições para atuar em outras frentes de garimpos que precisam ser desmobilizados, diz Schmitt.

“Os garimpeiros, ao que parece, não acreditavam de fato que o governo brasileiro, em especial o Ibama, iria atuar forte. Mas aos poucos estamos avançando. Destruir a infraestrutura é importante, pois acaba inviabilizando o trabalho dos invasores”, justifica o servidor de carreira do órgão.