E a ombudsman se gaba por Dilma ter escolhido a Folha. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 15 de julho de 2015 às 13:16
Vera
Vera

 

O jornalista Pedro Zambarda postou uma mensagem no Twitter à qual não dei a atenção devida no momento.

“Dilma: dê entrevistas não só para a Folha mas para sites como o DCM.”

Ao ler a ombudsman da Folha hoje, percebi quanto ele estava certo.

Vera Guimarães se gaba de Dilma haver escolhido a Folha para dar a entrevista, e não alguém do seu “círculo bajulatório”.

Antes de mais nada, eu gostaria de saber o que ela julga “círculo bajulatório”. Suponhamos que Aécio decidisse conceder uma entrevista a alguém.

Ele escolheria alguém fora de seu “círculo bajulatório”?

Mas esta é uma discussão adjacente. Vera repete, pelo que pude entender, o argumento que tenta desqualificar os sites progressistas como “governistas” – quando eles são, fundamentalmente, contra o tipo de jornalismo que a Folha representa.

Mas sigamos.

O que fez Dilma “escolher” a Folha?

Primeiro, e acima de tudo, a inércia. Há um universo florescente no jornalismo digital, mas o governo parece não ter se dado conta disso.

Nem o núcleo central do governo e nem as pessoas e departamentos que gravitam em torno dele.

No âmbito das estatais, um retrato disso está na maneira como elas anunciam.

Quando a verba da internet no bolo total da publicidade já está na casa de 40% a 50% em países como a Inglaterra e a Dinamarca, as estatais brasileiras destinam ao mundo digital dez vezes menos.

Há agora, segundo se noticia, uma recomendação para que as estatais destinem 15% de seus investimentos publicitários para a internet.

Mas, como mostram os levantamentos sobre a publicidade estatal, 15% é um número ainda distante – ainda que modesto em comparação com o que ocorre no mundo.

É como se vivêssemos, ainda hoje, na Era da Tevê, e não na Era Digital.

É o mesmo fator – inércia, conservadorismo – que está por trás de outras coisas.

Por exemplo: por que o último debate numa campanha presidencial tem que ser na Globo?

Os índices de audiência não explicam isso, mas a inércia. Um dia alguém vai se perguntar: ainda faz sentido? O mapa do Ibope da Globo é uma calamidade: o público está na internet, não na tevê.

E aí então as coisas vão mudar.

Até lá, para voltar à ombudsman, presidentes  continuarão a escolher a Folha.

Mas o jornalista Pedro Zambarda está enxergando mais longe que a ombudsman, e que Dilma, definitivamente.