E agora, José?
Por Moisés Mendes
Bolsonaro recuou muitas casas, depois do 7 de setembro, e agora a oposição terá pelo menos que ficar parada depois dos atos desse sábado. Ficar no lugar, sem jogar por um tempo, já será uma grande vantagem.
Bolsonaro não blefa mais com o golpe, e as esquerdas, que esperavam o centro que não veio, terão de descobrir o que fazer com o acovardamento de Bolsonaro. As ruas podem ter extraviado a capacidade de oferecer respostas.
Os próximos lances ficam ainda mais imprevisíveis. Bolsonaro escreveu a cartinha, aquietou-se e ficou esperando pelo que aconteceria nas ruas com a aglomeração dos que desejam derrubá-lo, dos que fingem querer o seu fim e dos que desejam apenas mantê-lo fraco.
Não há como não admitir, sob pena de incorrer em erros passados: os atos podem ter chegado ao esgotamento, talvez porque poucos continuem acreditando que Bolsonaro possa cair e, quem sabe, porque a maioria nem queira que caia.
Uma observação de quem ainda mantém cacoetes de repórter, depois da manifestação em Porto Alegre: faltaram a vitalidade de caminhadas anteriores, os jovens e até os políticos.
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Faltaram até os cartazes artesanais que, a partir de maio, pareciam ter trazido de volta às ruas a gurizada ausente desde 2013. O ato em Porto Alegre, não se enganem, foi apenas protocolar. Em São Paulo e no Rio dizem que foi cerimonioso.
É possível que tenha batido o cansaço com as caminhadas intermitentes, que não cumprem outra função que não seja a de acalmar a alma e passar a sensação de que assim Bolsonaro é mantido sob tensão.
Mas quem se arrisca a convocar os próximos atos? De novo daqui a dois meses? Com quem? Com que apelo? O Brasil terá descoberto a fórmula dos atos bimestrais, para que ninguém durma sentado?
Estamos antecipando o vácuo do fim do ano. A CPI do Genocídio não teria mais nada a oferecer antes do relatório que sairá ainda em outubro.
Há quem tenha alguma esperança com a retomada dos trabalhos da CPI das Fake News. Por enquanto, é muito pouco.
Quem busca consolos pode dizer que os atos tiveram Ciro Gomes, Fernando Haddad e Guilherme Boulos no mesmo palanque.
Eles apareceram, mas não atraíram mais gente do que nos atos anteriores. Não se criou um fato novo, e Ciro ainda teve que voltar para casa com o eco de uma vaia.
Confirmou-se o que já estava sendo antecipado. Que as manifestações nos informariam, em algum momento, que chegamos aonde é possível chegar.
Passar daí, para atingir outro patamar, é preciso apostar no que ainda é incerto e improvável. As oposições entram agora no modo Mandrake, até saber como podem voltar a se mexer. É uma bobagem querer avaliar o que aconteceu, como a direita sugere, pela ausência de Lula.
Bolsonaro deve ter se acalmado, porque não foi desta vez que se sentiu de fato acuado pelas ruas. E a oposição deve começar a pensar no que dizer quando alguém perguntar: e agora, José?