É assombrosa a capacidade de Bolsonaro de se superar em matéria de antidemocracia. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 7 de março de 2019 às 19:41
O presidente Jair Bolsonaro participa da cerimônia alusiva do aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais. Foto: Agência Brasil

A cadela do fascismo volta a arreganhar os dentes

É simplesmente assombrosa a capacidade do presidente Jair Bolsonaro de se superar em matéria de antidemocracia.

Quando o mundo acreditava que o sujeito precisaria de algum fôlego para criar um constrangimento ainda maior, horas após o inominável ato de atacar o carnaval via publicação pornográfica, o homem desce ao alçapão da civilidade e ameaça todo o sistema democrático via intervenção militar.

De um militar chinfrim para outros militares não menos indecentes, Bolsonaro se sentiu à vontade para declarar, sem sequer se ruborescer, que “democracia e liberdade só existem quando sua respectiva Força Armada assim o quiser”.

Não deixa de ser compreensível que o Brasil viva hoje um verdadeiro estado de letargia causado pela estupefação que é ser governado por um demente, mas a gravidade do que foi dito pelo atual presidente da República deveria acender todas as luzes vermelhas do Estado Democrático de Direito.

A coisa é perigosamente séria, urgente e estarrecedora.

E talvez a maior prova disso seja o fato de seu vice, general Hamilton Mourão, tentar passar panos quentes a esse atentado à Constituição Federal utilizando justamente a velha canalhice de culpar todos os outros brasileiros ao chamá-los de analfabetos por não terem capacidade de interpretação.

Mourão sabe muito bem a predileção de Bolsonaro por ditaduras e, mais ainda, o quanto ele próprio é um defensor ferrenho da utilização das forças armadas para interferir na democracia quando assim eles próprios considerarem necessário.

A sua tentativa de justificar o injustificável ultrapassa as fronteiras do cinismo e adentra o perigoso campo da tutela militar sobre governos civis que julgam incompetentes para honrar o já esgarçado lema estampado na bandeira nacional.

A tragédia aqui, porque comédia está longe de ser, é que o atual governo “civil” que ora administra o país é formado exatamente por uma maioria vergonhosa de velhos generais não visto sequer no golpe militar de 64.

E isso equivale dizer que Bolsonaro ao apelar para os militares para limpar a sujeira que criou a partir de uma verdadeira bolsa de colostomia que se transformou a sua massa cinzenta, atesta para o país a própria ineficiência da caserna enquanto centro da administração brasileira.

Estupidezes à parte, o momento é de extrema delicadeza e requer, mais do que nunca, a urgente ocupação das ruas para a definitiva derrubada de um governo que dia sim, outro também, vem ameaçando categoricamente todas as liberdades individuais e coletivas dos brasileiros em particular e da sociedade como um todo.

A história já nos mostrou reiteradas vezes que não existe diálogo possível com déspotas. E tanto Jair Bolsonaro quanto Hamilton Mourão são expoentes cavalares do que pior existe nos regimes de exceção.

Após insistentemente termos advertido, a cadela do fascismo volta a arreganhar os dentes, o futuro de uma democracia ainda jovem e frágil depende agora do que os democratas e progressistas farão para impedi-la.