É crucial para a democracia que o ataque a Bolsonaro não seja tratado como Bolsonaro o faria. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de setembro de 2018 às 10:22
Ataque a Bolsonaro é registrado pelas pessoas que acompanhavam ato político em Juiz de Fora / Foto: montagem sobre imagens da TV

É crucial para a democracia que o ataque a Jair Bolsonaro não seja tratado como Jair Bolsonaro o trataria.

O oportunismo abjeto da direita deu as caras rapidamente. A ideia da turma é reverter a comoção em votos, o que pode funcionar, de fato.

Em nota à imprensa, o general Mourão, vice na chapa de JB, culpou um “militante do Partido dos Trabalhadores”.

Adélio Bispo de Oliveira foi, na verdade, filiado ao PSOL, do qual já se desligou. Trata-se de um caso psiquiátrico.

Ele mesmo afirmou que agiu a “mando de Deus” em seu boletim de ocorrência.

“O dado que se tem é que ele fazia parte da campanha da Dilma em Juiz de Fora”, falou Mourão, sem citar qualquer evidência.

Depois, a uma revista, foi mais taxativo. “Eu não acho, eu tenho certeza: o autor do atentado é do PT”, afirmou. 

“Se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”. O que diabos isso significa?

A martirização de Bolsonaro vai caminhando rapidamente.

A Globo cobriu diligentemente o episódio, com direito a lamentos de jornalistas sobre o “clima de ódio” da campanha, como se não tivessem nada a ver com isso.

Os assassinos de Marielle Franco estão soltos.

No dia seguinte à sua execução, canalhas bolsonaristas estavam espalhando mentiras no WhatsApp sobre casamento com traficante e outras ignomínias.

A relativização foi imediata. “Se você morrer seus assassinos serão tratados por suspeitos, salvo se você for do PSOL, aí você coloca a culpa em quem você quiser, inclusive na PM”, escreveu Eduardo Bolsonaro nas redes.

Em março, quando a caravana de Lula no Sul foi atingida por ovadas, pedradas e, finalmente, baleada, a reação na mídia foi de desdém, majoritariamente, com uma ou outra condenação envergonhada por parte de um ou outro colunista.

Nunca se encontrarão os autores.

Bolsonaro deu sua colaboração à sua maneira.

“Está na cara que alguém deles deu os tiros. A perícia deverá ficar pronta entre hoje e amanhã e vai apontar a verdade”, declarou num comício em Ponta Grossa.

“Lula quis transformar o Brasil num galinheiro e agora está por aí colhendo ovos por onde passa” .

É fácil usar esse raciocínio com ele. Se alguém vive do discurso de ódio e da retórica da violência é Bolsonaro. Viva pela espada, morra pela espada, falou Jesus.

Mas é uma simplificação que, no momento, não eleva o nível do debate. A miséria humana interessa a eles. 

Teorias estapafúrdias, as mais idiotas possíveis, circulam. Uma delas junta uma reunião com os Marinhos ao milagre de Fátima.

Quem ganha com isso?

Que ele se restabeleça, o caso seja elucidado, os ânimos apaziguados, para que Jair Bolsonaro e o que ele representa sejam derrotados nas urnas.