É deprimente, em pleno Dia da Mulher, ver gente vomitar xingamentos machistas contra Dilma

Alvo de insultos machistas

Por mais medíocre e preguiçosa que possa ser uma mobilização combinada pelo whatsaap e realizada na sala da sua casa, você tem todo o direito de bater panelas, vaiar a Dilma e protestar contra o seu mandato.

Agora, é no mínimo triste e irônico, em pleno Dia Internacional da Mulher, ver gente abrindo a janela para vomitar xingamentos machistas à presidenta. Vamos rever esse discurso?

Não adianta me dizer: “Pô, Laís, pára de femimismo, a Dilma foi xingada por fazer merda e não por ser mulher!”. Ah é? Então por que a chamaram de “piranha”, “puta”, “vaca” e “vadia” em vez de ofendê-la por sua alegada incapacidade de governar?

Você xingaria um homem com esses mesmos termos? Já chamou algum cara de quengo, filho do puto ou piranho? “Ah, mas se fosse homem seria chamado de corno, viado ou filho da puta”!

Tenho uma novidade pra você: todos esses xingamentos são diretamente ligados à mulher. Ou porque o sujeito em questão foi traído por uma mulher ou porque sua mãe é uma puta ou porque você apresenta características femininas que o ridicularizam e o tornam indigno de ser chamado de homem.

Essas ofensas machistas refletem claramente a mentalidade e a cultura brasileira. Esses xingamentos não são pensados, são ditos no “calor do momento”, mas, ainda que “inconscientes”, quando reproduzidos acabam sim reforçando um discurso sexista.

Sei que ninguém nasceu feminista e que os conceitos machistas são normalizados em nossa sociedade, então, vamos esclarecer o seguinte: é errado, é baixo e é ignorante julgar uma pessoa por sua aparência, por sua orientação ou práticas sexuais e pelo seu gênero.

A Dilma podia ser uma vadia. Podia ser uma piranha, puta e vaca. Qual é o significado desses xingamentos todos? Que ela é uma mulher promíscua que dá pra todo mundo? Que ótimo! Eu sou vadia. O mundo é cheio de vadias. E isso não influencia em nada a nossa capacidade profissional.

Sexualidade não é ofensa. Uma mulher pode ser a maior quenga do mundo, mas isso não diminui a sua capacidade de governar e tomar decisões.

O que deveria ser discutindo é o interesse de um país, e não com quantos caras uma mulher, no caso a presidenta, já dormiu. Piranha, vaca e puta são termos vazios quando o assunto é política. Malcomida, sapatão, gorda e feia também.

Esses adjetivos não acrescentam nada à discussão política, mas dizem muito sobre você.

Laís Montagnana

Laís Montagnana, nem puta, nem santa. Amante de bons drinks, bons discos, noites quentes e mesas de bar na calçada. Escritora, feminista e encontrável em www.deliriosemcomprimidos.com e @lmontag

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Laís Montagnana

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