É Flórida. Por Miguel Paiva

Atualizado em 6 de janeiro de 2023 às 19:39
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) almoçando no KFC na Flórida. Foto: Reprodução

E olha que meu nome é Ponce de Leon. Miguel Ponce de Leon de Paiva, descendente direto do pirata espanhol Juan Ponce de Leon, descobridor da Flórida e da Fonte da Juventude na cidade de St. Augustine. Juan morreu ao voltar a Cuba, que também descobriu, na certeza de que ia ser aceito pelos indígenas. Levou uma flechada entre os olhos e isso aproxima a história dele à nossa realidade. Nosso pirata Jair fugiu para a Flórida, mais precisamente para Orlando que na época de Ponce de Leon ainda não existia e também tinha certeza que o povo daqui ia mantê-lo no poder. Não deu certo apesar de toda a roubalheira que ele impôs.

Sua ida para a Flórida reforça a tese que aquele estado americano assumiu a fama que o Brasil tinha há alguns anos de ser o refúgio dos bandidos no mundo porque aqui ninguém ia preso. Se ainda estivéssemos no governo Bolsonaro, talvez isso continuasse. Mas agora foi ele quem teve que fugir. A Flórida, uma bela região caribenha é já há algum tempo o porto seguro dos ricos, aposentados e desalmados do mundo. Os cubanos fugidos de Sierra Maestra foram para a Flórida que fica logo ali a oeste de Cuba. Foram e estabeleceram muito desta característica de terra del leche e miel.

Por outro lado, a Flórida de antigamente também abrigou na cidade de Key West a casa de Ernest Hemingway que costumava pescar por aqueles mares. O escritor fez da pequena cidade ao sul da península um ponto de inteligência e criatividade na região.

Quase só se fala espanhol na Flórida e agora, se fala português em qualquer esquina iluminada pelo sol. Foi na Flórida também que Walt Disney decidiu criar sua segunda terra dos sonhos infantis ao fundar o Walt Disney World, justamente em Orlando onde o Jair está morando emprestado na casa do lutador de MMA José Aldo. Será que eles ficam treinando por lá nas horas vagas?

Mas enfim, segundos fora, a Flórida é mais do que tudo o paraíso dos velhos republicanos aposentados. Foi lá que Bush organizou aquela fraude famosa que o levou ao poder e derrubou o candidato democrata Al Gore que vinha na frente. Lembra muito a contestação de Bolsonaro às urnas eletrônicas e depois aos resultados, lá na Flórida Bush conseguiu. Tanto fez e com o apoio do congresso da época, recontou os votos e levou. A Flórida é isso. Lá, tudo que você planta dá, principalmente notícias falsas, falcatruas econômicas, jogos de influência e conspirações internacionais.

Foi de lá que partiu a fatídica operação da Baia dos Porcos em Cuba em abril de 1961 que fracassou redondamente ao tentar derrubar Fidel Castro. Na Flórida existe uma espécie de governo paralelo de Cuba que chegou ao extremo de organizar a chamada operação Peter Pan que em 1960. Uma série de fake news que ameaçavam os pais cubanos de perderem o pátrio poder sobre seus filhos foram espalhadas pela ilha com a ajuda da igreja católica. Isso causou uma fuga orquestrada de crianças para a Flórida e algumas delas nunca mais reviram seus parentes.

Hoje a Flórida faz jus à sua fama. É o paraíso do condomínios milionários, dos exilados econômicos do mundo todo, dos russos endinheirados e suas mulheres carregadas de joias, dos imensos apartamentos, muitos deles ocupados por famílias brasileiras, terra do Silvio Santos, do José Aldo e tantos outros patriotas que não se sentem representados pelo país que temos. É preciso olhar a Flórida como um estado distante, mas muito próximo sobretudo porque de lá podem partir propósitos escusos. Existe muito dinheiro, muitos cubanos contrarrevolucionários, muitas palmeiras onde não cantam os sabiás e agora a turma do Jair. Eles se merecem.

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia

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