Depois que a máscara do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, caiu, é hora de investigar os crimes dele e da irmã em Minas Gerais.
Desde 2013, o Diário do Centro do Mundo tem publicado reportagens minhas que mostram como os irmãos Neves utilizaram a estrutura do Estado para enriquecer, perseguir adversários políticos e jornalistas, e garantir a impunidade através do aparelhamento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com a nomeação de desembargadores amigos, e da Procuradoria de Justiça, com a nomeação de chefes para cargos no governo.
Eu vi a face desta máquina monstruosa, que manteve inocentes na cadeia e impôs terror na vida de quem ousou discordar ou denunciar abusos no projeto de poder de Aécio Neves, conduzido com mãos de ferro pela irmã Andrea Neves.
O ex-dono do Diário de Minas, Marco Aurélio Carone, filho de um ex-prefeito de Belo Horizonte, era um homem destroçado, andando de muletas, abatido por um enfarte que teve nos nove meses que passou na prisão, três deles em solitária, sem que houvesse condenação alguma sobre ele.
“O crime que eu cometi? Foi divulgar no site Novo Jornal informações que eu recebia sobre corrupção, ligações com o consumo e o tráfico de drogas do então governador, abuso da polícia, tudo que os jornais tradicionais não davam, porque estavam comprados por Andrea Neves”, disse Marco Aurélio Carone, numa entrevista gravada de mais de duas horas.
Na solitária, para não enlouquecer, Carone conversava com um rato.
Seu editor chefe no Novo Jornal, o premiado jornalista Geraldo Elísio, o Pica-Pau, me recebeu de bermuda e chinelo em seu apartamento modesto de Belo Horizonte e se surpreendeu quando soube que um veículo de São Paulo, o Diário do Centro do Mundo, tinha se interessado por sua história.
“A máquina de difamação aqui é muito poderosa. Eu não fui preso, mas os policiais reviraram a minha casa, e como não encontraram nada que me incriminasse levaram o computador onde eu tinha o original de três livros que pretendia publicar, um deles com minhas memórias de repórter”, afirmou ele, que já ganhou Prêmio Esso durante a ditadura, por denunciar tortura na Polícia Militar do Estado.
Pica-Pau foi também secretário adjunto da Cultura no governo de Newton Cardoso, do PMDB. Não era um outsider da política mineira, mas também foi esmagado pela máquina de Aécio e Andrea, e o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais na época chegou a sondar a Embaixada do Uruguai no Brasil, para pedir asilo para ele.
Geraldo Elísio recusou, com um propósito: continuar publicando informações sobre os crimes nos governos de Aécio e de Antônio Anastasia, seu sucessor. E ele faz isso até hoje, em sua página no Facebook, chamada Estação Liberdade.
O advogado Dino Miraglia, profissional de excelente reputação no Estado, perdeu o casamento quando a mulher o mandou embora de casa, depois que a polícia aecista, utilizando até helicóptero, fez uma operação de busca e apreensão em sua casa, onde havia um dos seus escritórios.
Tudo com cobertura da imprensa local. O crime de Dino? Defender Nílton Monteiro, o ex-operador de Sérgio Naya e do PSDB que denunciou o mensalão mineiro, a engenharia que desvio de recursos de publicidade para campanhas eleitorais que o PT, ao chegar ao poder em Brasília, herdou, inclusive com os mesmos personagens, Marcos Valério entre eles.
Os petistas foram presos e execrados. Já os peessedebistas continuam sem punição.
Nílton também denunciou a lista de Furnas e, por isso, foi acusado de ser mega estelionatário, o inimigo número 1 de Minas e do Brasil.
Falsas perícias, realizadas pela Polícia Civil alinhada ao poder de Aécio, atestavam que a lista era armação, mas depois, com uma perícia realizada pela Polícia Federal, se constatou que não, era autêntica, e nela estão Aécio e os aliados do governo de Fernando Henrique Cardoso, inclusive Jair Bolsonaro.
É nitroglicerina pura, mas durante muito tempo foi ignorada por órgãos de investigação e pela imprensa.
Sempre recebi com ceticismo as denúncias que ligavam o esquema de Aécio ao crime mais pesado, como roubo de bancos e tráfico de drogas, mas os fatos insistem em aproximá-lo desse terreno pantanoso.
Existe uma história em Minas, muito mal explicada, da morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, que era operadora do esquema do mensalão, amante de um dos figurões da política local. Ela foi assassinada, mas o rapaz que assumiu o crime, dizendo-se seu ex-namorado, nunca foi preso.
O primo de Aécio e Andrea, o Kedo, teve participação direta na negociação de um habeas corpus que tirou dois traficantes da cadeia. Quem concedeu o habeas corpus? Um desembargador nomeado por Aécio, como segundo de uma lista tríplice do Ministério Público do Estado.
Não ouvi a fita que, segundo o jornal O Globo, foi gravada por Joesley Batista com Aécio. Nela, o presidente nacional do PSDB apareceria dizendo que precisavam de um portador de mala de dinheiro que pudessem matar antes de se tornarem delatores.
Não sei o contexto em que foi dito, se de maneira irônica ou não, mas o fato em que as mãos de Aécio, que ele prometia usar para a remover o mar de lama da política brasileira, deixaram suas digitais impregnadas na cena de vários crimes.
É hora de apurar para valer.