E-mails de Epstein revelam vínculos profundos com Israel, ignorados pela mídia

Atualizado em 13 de novembro de 2025 às 9:25
Jeffrey Epstein e Donald Trump. Foto: reprodução

Enquanto a Câmara dos Representantes dos EUA se prepara para votar uma resolução que exige a divulgação de arquivos relacionados ao falecido financista e criminoso sexual Jeffrey Epstein, uma nova série de investigações reacende um tema pouco explorado: suas ligações com a inteligência de Israel.

Durante anos, a relação entre Epstein e o governo israelense foi tratada como mera especulação. Mas, em outubro de 2024, o grupo palestino Handala vazou mais de 100 mil e-mails hackeados do ex-primeiro-ministro Ehud Barak (1999–2001), revelando detalhes inéditos.

As mensagens cobrem o período de 2013 a 2016, logo após Barak deixar o Ministério da Defesa. Ele era um dos contatos mais próximos de Epstein, tendo visitado suas propriedades na Flórida e em Nova York mais de 30 vezes entre 2013 e 2017, mesmo após a condenação de Epstein por exploração sexual de menor.

Virginia Giuffre — uma das vítimas mais conhecidas de Epstein, falecida no início deste ano — acusou em seu livro póstumo um “primeiro-ministro”, amplamente entendido como Barak, de tê-la violentado quando tinha 18 anos, na ilha particular do financista no Caribe. Barak negou categoricamente qualquer envolvimento e afirmou não saber das atividades criminosas de Epstein.

Com base nesses e-mails, o Drop Site News vem publicando, desde setembro, uma série de reportagens que detalham o papel de Epstein como intermediário em acordos de inteligência entre Israel e outros países.

Segundo as mensagens, Epstein e Barak mantinham contato quase diário, discutindo estratégias políticas e empresariais, enquanto Epstein organizava encontros entre Barak e integrantes de círculos influentes.

As revelações coincidem com o aumento da pressão no Congresso dos EUA sobre as ligações de Donald Trump com Epstein. Documentos divulgados por democratas mostram que, em 2011, Epstein escreveu a Ghislaine Maxwell mencionando Trump como alguém que “passava horas em sua casa” com uma de suas vítimas.

Hussain afirmou em entrevista que o foco nas relações de Epstein com Trump tem desviado a atenção de outros aspectos graves: suas conexões com governos estrangeiros e agências de espionagem.

Uma das investigações mostra que Epstein ajudou Barak a criar um acordo de segurança entre Israel e a Mongólia, envolvendo figuras como Larry Summers, ex-conselheiro econômico de Bill Clinton e Barack Obama. O pacto previa a compra de equipamentos militares e tecnologias de vigilância israelenses, em operações nas quais ambos tinham interesses financeiros.

Outra reportagem aponta que Epstein intermediou um canal secreto entre Israel e a Rússia durante a Guerra Civil Síria, tentando convencer Moscou a afastar o presidente Bashar al-Assad — prioridade estratégica para Tel Aviv. Esse processo levou Barak a se reunir com Vladimir Putin, encontro pelo qual ele agradeceu diretamente a Epstein.

O financista também participou da venda de tecnologia de espionagem israelense para a Costa do Marfim em 2014, usada pelo governo de Alassane Ouattara para interceptar comunicações e monitorar civis. Segundo a investigação, o país se transformou, desde então, em um regime cada vez mais autoritário, apoiado em sistemas de vigilância de origem israelense.

Outro trecho da série relata que o espião israelense Yoni Koren hospedou-se diversas vezes no apartamento de Epstein em Nova York entre 2013 e 2015. Koren atuava como intermediário entre autoridades dos EUA e de Israel e chegou a organizar reuniões com o ex-diretor da CIA, Leon Panetta.

As descobertas reforçam a hipótese de que Epstein não era formalmente um agente do Mossad, mas atuava como colaborador informal para avançar os objetivos geopolíticos mais agressivos de Israel.

“O surpreendente”, disse Hussain, “é que, em vários momentos, parecia que o Mossad estava a serviço de Epstein, e não o contrário.”

Os autores das reportagens, Murtaza Hussain e Ryan Grim, criticaram o silêncio da imprensa tradicional diante do material. Segundo eles, veículos como The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal ignoraram os documentos públicos que expõem a atuação de Epstein como peça importante da rede de inteligência israelense.

“É curioso ver como os principais jornais, sempre ávidos por histórias sobre Epstein, de repente perderam o interesse quando surgiram provas documentais”, escreveram.

Hussain e Grim afirmam que continuarão investigando as implicações políticas das atividades de Epstein e os vínculos que ainda não vieram à tona.