E o Rei vazou do camarote do Procure Saber

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:30
Pois é, bicho
Pois é, bicho

 

Roberto Carlos saiu do grupo Procure Saber. Teria se indisposto com o último artigo de Caetano Veloso no Globo, em que Caetano disse que o colega “só apareceu agora, quando da mudança de tom”.  Acrescentou: “Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei. É o normal da nossa vida”.

O empresário de Roberto, Dody Sirena, enviou uma carta ao que chamou de “seleção” do Procure Saber. Carta que, claro, foi parar nos jornais: “Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos, afinal defendemos também a privacidade no sentido profissional”.

Era questão de tempo. Como o debate se fixou no choque entre dois direitos fundamentais  — à privacidade e à liberdade de expressão –, a entidade terminou na colisão entre dois egos: o de Roberto e o de Caetano.

Caetano tem um estilo combativo. Concorde-se ou não, ele se expõe, deixa evidentes suas posições e parte para cima. Fez isso desde o início da polêmica.

É compreensível que tenha se sentido, de certo modo, traído. Afinal, a censura prévia às biografias é uma causa sobretudo robertiana. E, quando Roberto apareceu, foi para contar que era a favor de biografias não-autorizadas. Saiu bonito.

RC opera de outro jeito. Nas sombras, tentando ser discreto. Tem um batalhão de advogados que zelam por sua imagem. Não quer ficar mal com ninguém. Surgiu um comunicado de um de seus advogados, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, aos membros do PS: “Penso, sem querer dar conselho, que seria bom que alguém, representando os demais artistas, se habilitasse no Congresso para continuar a discussão”, escreveu.

Kakay é um dos sócios do restaurante Piantella, ponto de encontro de políticos em Brasília. Já defendeu a atriz Carolina Dieckmann, o senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marconi Perillo. Tem relação também com o PT.

Roberto Carlos é hoje, provavelmente, o personagem mais anacrônico da música brasileira. Mais do que Cauby Peixoto. A Internet aproximou a audiência e tornou mais difícil controlar as informações — para o bem e para o mal. Sua biografia, por exemplo, está disponível para download e foi baixada loucamente nessas semanas. Mick Jagger tem uma conta no Twitter em que responde os fãs (ok, é um estafeta, mas você entendeu). Paul McCartney faz aparições surpresa. Roberto aparece na Caras.

No auge da discussão, o que ele faz? Recolhe-se e transfere seus interesses para os corredores de Brasília, longe do público. Erasmo Carlos se manifestou hoje sobre se fica ou sai do Procure Saber. “Agora eu preciso pensar e me reunir até com Deus”, afirmou. Vai ser difícil achar uma brecha na agenda de Roberto.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.