É preciso medir os estragos do general da cloroquina. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de maio de 2021 às 12:31
O General Eduardo Pazuello. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia:

Por Moisés Mendes

O Datafolha tem subprodutos irrelevantes das pesquisas que faz. Por exemplo, por que perguntar para pessoas em situação de miséria se estão satisfeitas com o auxílio emergencial de R$ 150 a R$ 375, se a resposta é a esperada?

Para 87%, o auxílio não significa quase nada. É o que diz o Datafolha desta semana. É uma pesquisa inútil, com respostas óbvias. Não há contribuição alguma de uma pesquisa em que a pergunta já vale como resposta.

O que o Datafolha não pergunta mais, há muito tempo, é sobre a percepção que as pessoas têm dos militares no poder. Deveria perguntar. É importante saber qual é o dano real do acovardamento antecipado de um general da ativa diante de perguntas sobre o que ele fez no governo.

Eduardo Pazuello tem medo de falar sobre ações de saúde pública tomadas sob seu comando. E nós não temos um termômetro do que as pessoas pensam do encolhimento de um militar que, pela imagem da instituição que o acolhe, deveria ser destemido.

A última pesquisa do Datafolha sobre os militares tem quase um ano, é de 31 de maio de 2020. O instituto quis saber o que os brasileiros achavam da presença deles no governo.

Essa foi a pergunta: militares devem ter cargos no governo? A maioria de 52% respondeu que não, enquanto 43% disseram que sim e 5% não souberam responder. Pazuello havia assumido a Saúde interinamente duas semanas antes, com a saída de Luiz Henrique Mandetta.

Um ano antes dessa pesquisa, em abril de 2019, o Datafolha havia feito um levantamento com indagação semelhante. A pergunta era essa: a grande presença de militares em cargos no governo é mais positiva ou mais negativa para o país.

Uma ampla maioria de 60% dos entrevistados considerou positiva, 36% disseram ser negativa, 2% se disseram indiferentes e 3% não souberam responder.

Mesmo que a formulação das perguntas não tenha sido exatamente a mesma, nos dois anos, as duas pesquisas levantam na essência a mesma questão: os militares devem participar do governo em cargos importantes ou de alto escalão?

Há uma inversão das opiniões de 2019 para 2020, no espaço de um ano. Como uma pesquisa foi feita em abril de 2019 e a outra em maio de 2020, esse é o momento para fazer, no mesmo intervalo, a pesquisa de 2021.

Não há melhor momento. O Datafolha precisa voltar a indagar se os militares devem estar no governo, mas não só isso. Deve questionar também os eleitores sobre o desgaste que a situação de Pazuello provoca para as Forças Armadas.

Se não perguntar, a pesquisa será incompleta. Uma amostragem sobre o sentimento da população em relação aos seus generais deve abordar os estragos de Pazuello.

Pode ser que a pesquisa já esteja sendo preparada ou até que tenha sido feita para divulgação nos próximos dias. Se não foi, é preciso fazê-la.

A Folha não pode perder tempo com perguntas irrelevantes. Queremos e precisamos saber se a armadilha que Bolsonaro preparou para Pazuello foi também uma arapuca para todos os militares.

Se a grande maioria da população achar que foi, Bolsonaro pode finalmente parar de blefar com o golpe, se é que consegue.

Vamos ouvir o povo sobre o encolhimento do general da cloroquina. O jornal pode até esperar o depoimento ou o silêncio do ex-ministro no dia 19 na CPI do Genocídio.

Mas é preciso pesquisar logo o que o brasileiro acha dos militares que continuam com Bolsonaro. Mesmo com todas as evidências de que participam de um governo envolvido em crimes que se repetem.

Vamos lá, Datafolha. Sem muitos adiamentos e sem tergiversações. Sem volteios, com perguntas diretas.