É preciso reconhecer a capacidade de Bolsonaro de gerar delírios. Por Ricardo Capelli

Atualizado em 8 de setembro de 2018 às 15:37
Momento da facada

POR RICARDO CAPELLI

Se já tinha o poder de se comunicar com seu eleitorado como um “Lula da direita”, simples e objetivo, direto, se somou ao ex-presidente agora na condição de vítima. Temos duas vítimas do sistema, um preso e outro sangrando em cadeia nacional.

Qualquer marqueteiro será capaz de reduzir agora suas dificuldades com o eleitorado feminino. Basta trazer sua família e sua mulher para a cena chorando, dizendo da dor que seria perder um marido e um pai maravilhoso.

Se já estava difícil que a profecia de derretimento de Jair se concretizasse, agora ela parece impossível. Que eleitor vai abandonar seu escolhido gravemente ferido no leito de um hospital? Esqueçam, o brasileiro é altamente solidário na dor porque a conhece de perto.

A rejeição do Capitão deve cair e as próximas pesquisas devem indicar alguma subida. A facada teve o poder de transformar o general Mourão num defensor do devido processo legal para o agressor. A mudança é radical.

A grande mídia está com a faca e o queijo na mão. Pode colocar Bolsonaro na TV 24 horas por dia sem nenhuma contestação. Trata-se de um fato jornalístico. Quem teria a coragem de questionar a cobertura da situação de uma pessoa gravemente ferida?

A pressão do establishment sobre o PSDB será insuportável. Ao garantir vaga no segundo turno com Jair passarão a sonhar com uma vitória consagradora no primeiro turno. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto.

A justiça tende a radicalizar contra a aparição de Lula no processo eleitoral. Se a briga entre o PT e Ciro por uma suposta vaga no segundo turno se tornar insana, o risco de um abraço de afogados será enorme.

A facada na democracia materializou o crescente processo de radicalização, o descrédito nas eleições e nas instituições. Fez o país pender perigosamente para uma extrema direita que agora, oportunamente, recolhe os dentes.

As próximas semanas serão intermináveis. Os progressistas e democratas podem ser impelidos a seu unir ainda no primeiro turno. Nunca o Capitão esteve tão próximo do Planalto.