Política

É preciso trazer o governo para a linha que separa a sanidade da insanidade. Por Luis Felipe Miguel

General Mourão e Jair Bolsonaro. Crédito da foto: Evaristo Sa/ AFP

Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor

POR LUIS FELIPE MIGUEL, cientista político

Ontem, a deputada Fernanda Melchionna, líder do PSOL na Câmara, protocolou um pedido de impeachment de Bolsonaro. Minutos depois, a direção nacional do PSOL lançou uma nota condenando a iniciativa.

Eu, que sou um dos muitos signatários do pedido protocolado pela deputada, não sou filiado ao PSOL, não acompanho as brigas internas do PSOL, não tenho interesse por elas. Mas acho a nota da direção lamentável e desnecessária – uma direção, aliás, que se mostrou tão tolerante às divergências internas quando a bancada se dividiu na questão do apoio ao pacote “anticrime” de Moro.

O pedido da Fernanda Melchionna vai derrubar Biroliro? Provavelmente não. Vai se juntar a outros e contribuir para aumentar a pressão para que Maia dê início ao processo. Ao se somar na construção do clima de “basta”, tem um significado político – que seria maior se a direção do PSOL não optasse por sabotá-lo.

A queda de Bolsonaro é a solução para todos os nossos problemas? Certamente não. Mas não é irrelevante.

A crise se acelerou tanto que ter alguém em posse das faculdades mentais à frente do governo federal faz diferença.

Retirar Bolsonaro significa eliminar a sabotagem às medidas de combate ao coronavírus que nascem da cúpula do Poder Executivo.

Significa interromper a escalada antichinesa certamente desastrosa para o país nesse momento.

E significa, também, ampliar a possibilidade de que o governo tome medidas necessárias para salvar a economia brasileira e amparar a maioria desprotegida da população. Afinal, a maré crescente contra Bolsonaro é a mesma que percebe a urgência da intervenção estatal neste momento.

Os mesmos que desdenham dos pedidos de impeachment estão ridicularizando os panelaços de ontem à noite, que juntaram muitos de nós à classe média tardiamente arrependida.

Acham tudo isso bobagem, marolinha, perda de tempo. Perguntam quem vai fazer a revolução.

A resposta é simples: ninguém.

No momento, ninguém. Se não tivemos força para mobilizar até agora, quem dirá em situação de isolamento social.

Não será o PT de Lula, cujo mutismo no atual momento chega a assustar. Não serão os irmãos Gomes, cujo impulso retroescavador mostra ter fôlego bem curto. Certamente não será um PSOL mais preocupado com suas disputas internas do que com o enfrentamento à extrema-direita.

Caindo Bolsonaro, continuaremos com um governo de direita. Provavelmente será Mourão. Se não for Mourão, será Maia. Ou um governo de “salvação nacional”, um triunvirato com o véio da Havan, FHC e Lula, sei lá.

Mas teremos trazido o governo federal para o lado de cá da linha que separa a sanidade da insanidade. No atual momento, isso não é pouco.

Teremos bagunçado o coreto da direita. Teremos ganhado capacidade de iniciativa. Teremos recuperado sintonia com uma parcela barulhenta da opinião pública, ainda que provisoriamente e só enquanto durar o pânico…

Estaremos com melhores condições para barrar o desmonte do Estado e forçar medidas em favor dos trabalhadores, das mulheres, dos desempregados, dos informais, dos micro e pequenos empresários.

Podemos fazer isso. Ou podemos, ao mesmo tempo em que enchemos a boca para falar da “análise concreta da situação concreta”, nos refugiarmos no sonho abstrato da revolução.

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