É preciso um basta: relatório de Daniel Cara recomendou estratégias para evitar atentados em escolas

Atualizado em 27 de março de 2023 às 11:53
Professores e alunos foram esfaqueados na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo

Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados manhã desta segunda-feira (27) na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo.

Uma das professoras morreu, Elisabete Tenreiro, 71 anos, teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP.

As cenas são de filme de horror. O que fazer? Como impedir esses atentados, cada vez mais comuns?

Um relatório encaminhado ao grupo de transição da área de educação do governo Lula recomendou estratégias para evitar essa barbárie que vem se repetindo. 

O documento foi organizado por Daniel Cara, professor da FE/USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Sugere a formação continuada de professores sobre o extremismo de direita e como enfrentá-lo. Há maneiras de identificar alterações de comportamentos nos jovens, como interesse incomum por assuntos violentos e atitudes agressivas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, uso de expressões discriminatórios e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.

O material foi elaborado após ataques a tiros em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram 4 mortos e 13 feridos no final de novembro.

Depois disso, três adolescentes foram baleados na Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral (CE).

De acordo com o levantamento da equipe de Cara, esses atentatos começaram na primeira década dos anos 2000 no Brasil e, desde então, foram dezesseis ocorrências — quatro apenas no segundo semestre de 2022, com 35 mortos e 72 feridos.

O contexto é da escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e prática, fortemente relacionados a gênero e orientação sexual. Os alvos de cooptação desse discurso são majoritariamente brancos e heterossexuais, que têm as mulheres como alvos preferenciais.

“É importante não tratar como ‘terrorismo’ todos os casos de cooptação de adolescentes pelo extremismo de direita, pois ao focalizar exclusivamente na prevenção de atentados, exclui-se a possibilidade de prevenir que adolescentes sejam cooptados por grupos e discursos de extrema-direita que não necessariamente incentivam o cometimento de atos terroristas”, diz o relatório.

“Contudo, é inegável que as violências nas escolas – um fenômeno que contempla inúmeras expressões – colabora com a emergência do extremismo de direita e a consequente cooptação de adolescentes e jovens”.

O poder público deve fomentar o combate à desinformação nas salas de aula por meio de uma educação crítica. Nesse sentido, aponta prejuízo na redução gradativa da presença de conteúdos de disciplinas das ciências humanas e sociais aplicadas, como geografia, história, filosofia e sociologia.

Essa defasagem foi agravada com a implementação da Reforma do Ensino Médio e a instituição de itinerários formativos muitas vezes desligados a essas áreas de conhecimento.

O material sugere ainda a criação de leis que proíbam a criação e fechem as centenas de academias e institutos militares mirins, que ofertam cursos militares para crianças e adolescentes e colocam crianças, a partir de 5 anos de idade, para manusear, quando não armas de verdades, réplicas destas.