E se fosse Dona Marisa a comprar uma mansão de um investigado por uma bagatela? Por Nathalí Macedo

Atualizado em 3 de abril de 2018 às 22:58
Marcela e o marido Adamastor

O advogado José Yunes, amigo de Michel Temer e preso na Operação Skala (por que “amigo de Temer” e “preso” combinam tanto na mesma frase?) admitiu ter vendido à primeira-dama Marcela Temer um imóvel no Alto de Pinheiros, São Paulo, pela bagatela de 800 mil reais.

Tente você, pobre mortal, comprar um imóvel de alto padrão no Alto de Pinheiros: Não sai por menos de 2 milhões. Mas este foi, digamos, um negócio de pai para filho. Muita com$ideração envolvida.

O dinheiro veio, supostamente, de uma doação do presidente à sua esposa. Ainda não se sabe, entretanto, se o dinheiro de fato saiu da conta de Marcela para a de Yunes. Muitas coisas no caso, aliás, permanecem na obscuridade.

Questionado sobre por que não declarara, em depoimento, o negócio celebrado com a primeira-dama, a defesa de Yunes disse que ele não falou porque ninguém perguntou.

Ah, tá.

Na atual conjuntura, esta não é uma informação que possa ser omitida ou que precise ser perguntada.

A operação Skala, a título de lembrete, é aquela que investiga o pagamento de propina a Temer para favorecer, em decreto, a empresa Rodrimar, do Porto de Santos.

É fácil juntar as peças do quebra-cabeças.

E se fosse Dona Marisa a comprar um imóvel de um investigado – e preso – por um valor ridiculamente abaixo do preço de mercado, com dinheiro advindo de doação de seu marido?

As ruas certamente já estariam coloridas de verde e amarelo. Por muito menos – um triplex no Guarujá, por exemplo – Lula, Dona Marisa e quem mais estivesse envolvido no escândalo seriam linchados.

Em se tratando de um político não-petista, entretanto, graças à indignação seletiva dos coxas, sequer um pio: nem na internet, nem na imprensa, nem nas ruas.

A Polícia Federal está apurando o caso – porque ser condenado sem provas é privilégio de petista e mulher de petista. Só à Marcelinha é garantido o direito a ampla defesa.

Todo o escândalo envolvendo a Rodrimar, inclusive, gerou muito menos estardalhaço do que deveria: quantas matérias sobre a polêmica frase de Segóvia, interpretada pelos delegados federais responsáveis pela operação como uma ameaça?

Quantas pessoas nas ruas pedindo celeridade nas investigações a Michel Temer? Quantas acusações exaltadas a um presidente da república que faz negócios obscuros com amigos pessoais investigados por pagarem-lhe propina?

Pouco ou nada, e isso só ressalta o óbvio:

O problema não é – e nunca foi – combater a corrupção. O problema é eliminar o PT – e, junto com ele, os pobres. Ao menos das vistas dos cidadãos de bens como Marcelinha.