E se o povo voltar às ruas por justiça tributária e contra os privilégios dos bilionários?

Atualizado em 8 de outubro de 2025 às 20:34

Gilberto Kassab e o governador de SP, Tarcísio de Freitas. Foto: reprodução

A rejeição da Medida Provisória do IOF representa uma derrota relevante para o governo Lula, mas, sobretudo, um retrocesso na tentativa de tornar o sistema tributário brasileiro mais justo. A proposta previa cobrar mais de quem lucra com aplicações financeiras, fintechs, apostas e criptomoedas — setores que movimentam bilhões sem contribuir proporcionalmente para o país. Ao arquivar o texto, a Câmara manteve intocados os privilégios de quem ganha mais, reforçando o peso dos impostos sobre consumo e renda do trabalho, que atingem justamente os mais pobres.

Na prática, o Congresso decidiu que a conta continuará sendo paga pelo mesmo de sempre: o assalariado. A medida tentava corrigir uma distorção histórica, em que bancos e grandes investidores contribuem menos, em proporção, do que quem vive de salário. O texto elevava a alíquota do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras e igualava a tributação das fintechs à dos bancos, além de taxar apostas e criptomoedas. Todas essas medidas foram derrubadas com o apoio de partidos do Centrão e articulação direta do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que atua a mando do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de quem é secretário de Governo e Relações Institucionais.

A vitória do setor financeiro e das casas de apostas mostra a força das elites econômicas no Congresso e o enfraquecimento do debate sobre justiça tributária. Enquanto países desenvolvidos buscam taxar grandes fortunas e lucros financeiros para equilibrar suas contas, o Brasil segue cobrando mais de quem consome e menos de quem acumula. A decisão, portanto, não afeta apenas o governo — é um golpe na ideia de um sistema fiscal mais equilibrado, capaz de reduzir desigualdades.

O episódio escancara a desconexão entre o Legislativo e a maioria da população.

Ao proteger bancos e bilionários, o Congresso se coloca contra a reforma que poderia distribuir melhor o peso dos tributos. Em vez de aliviar o trabalhador, a votação reforça um modelo que mantém o Brasil entre os países mais desiguais do mundo, onde quem tem menos segue financiando o privilégio de quem tem mais. Ainda assim, o país dá sinais de amadurecimento político.

O embate recente sobre a PEC da Impunidade mostrou que parte expressiva da sociedade está mais atenta e disposta a reagir a medidas que afrontam o interesse público. A derrota da MP do IOF se soma a esse processo, oferecendo um novo momento de reflexão sobre o futuro que o Brasil deseja — e sobre o tipo de Congresso que está sendo construído com as escolhas de hoje.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo