Economista explica ao DCM que deflação comemorada pelo governo não é boa notícia

Atualizado em 10 de agosto de 2022 às 7:10
Ciro Nogueira comemoração
Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro comemoraram queda de 0,68% no IPCA. Foto: Reprodução

Nesta terça (9), foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho teve uma queda de 0,68%. A taxa se dá por conta na queda de preço dos combustíveis.

A divulgação foi comemorada por Jair Bolsonaro e seus aliados, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Apesar do número que encantou os bolsonaristas, a notícia não é tão boa assim. O prestigiado economista Luiz Gonzaga Belluzzo explicou ao DCM que a queda no IPCA não deve ser comemorada tão cedo. Ele explica que a taxa foi puxada pela queda de preços dos combustíveis, que “têm um peso grande”.

“Agora, a inflação sobre os alimentos, por exemplo, não arrefeceu. As medidas foram tomadas um tanto tardiamente, porque a inflação corroeu de tal forma os salários que isso não se repõe porque a inflação caiu”, afirma.

Os combustíveis foram um dos principais responsáveis pelo alto índice de inflação deste ano. Neste mês, o preço dos insumos teve uma queda de 14% após PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que limitou a alíquota máxima do ICMS para bens classificados como essenciais: combustíveis, energia, telecomunicações e transporte coletivo.

Outro motivo que causou a queda dos preços dos combustíveis foi a medida da Petrobras anunciada em 20 de julho, que diminuía R$ 0,20 o preço médio dos insumos vendidos para distribuidoras.

Apesar da diminuição no valor, o acumulado de 12 meses da inflação ficou em 10,07% e nos sete meses deste ano até julho, 4,77%. Os alimentos continuam subindo e tiveram uma variação de 1,30% neste mês. O resultado foi puxado pelo leite longa vida, que subiu mais de 25%, e seus derivados, como o queijo (5,28%) e a manteiga (5,75%).

Com isso, houve uma subida da inflação da alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho.

“A inflação ainda medida em 12 meses ela continua em torno de 11% por aí. Ela dá um sinal mais favorável, mas não é como se tudo fosse virar uma maravilha. O preço dos alimentos não caiu, você pega na composição do IPCA e, ao contrário, eles continuaram subindo. Isso afeta muito a população de baixa renda”, diz Belluzzo.

Sobre a comemoração de membros do governo, o economista explica que “isso é do jogo político” e “eles estão desesperados para apresentar resultados”. “A inflação caiu por conta dessa interferência no nível de preços dos combustíveis”, aponta.

Ele acredita, no entanto, que a queda no IPCA possa mexer com as intenções de voto nesse ano. “Reverter eu acho difícil, mas é provável que ele [Bolsonaro] tenha uma ascensão de alguns pontos e acho que isso talvez impeça a vitória de Lula no primeiro turno”, avalia.

“Mas vai depender muito do desdobramento desses próximos dois meses. O fato de você ter tido deflação só vai aparecer na renda das pessoas muito mais tarde, por conta do desastre e da perda de renda. Para dizer que houve deflação, você precisa de um período maior e, na verdade, avaliar quanto tempo vai levar para que isso seja percebido na renda das pessoas. É isso que interessa”, finaliza.

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