Economistas veem tarifaço de Trump com impacto mais político e com efeitos reduzidos no Brasil

Atualizado em 20 de julho de 2025 às 10:41
Sede do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Economistas reunidos com o Banco Central (BC) avaliaram que os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil sob o governo Donald Trump devem ser mais relevantes no campo político do que propriamente na macroeconomia. Com informações do Valor Econômico.

Segundo relatos dos participantes, a preocupação maior segue sendo a inflação e os sinais de enfraquecimento da atividade econômica no país, que começam a se acumular diante da desaceleração do crédito e do desempenho aquém do esperado de instrumentos como o consignado privado.

Durante os encontros, realizados na última sexta-feira (18), analistas apontaram que o cenário inflacionário apresenta perspectivas melhores para 2025 e 2026. Projeções de inflação abaixo de 5% para este ano e na faixa de 4% a 4,5% para o próximo ano foram discutidas, considerando não apenas a cotação do dólar, mas também a dinâmica de preços no setor de serviços. A revisão para baixo nas estimativas mostra um ambiente econômico mais favorável do que o previsto no início do ano.

No âmbito da política monetária, parte dos economistas consultados admite a possibilidade de o BC iniciar o corte da Selic já em dezembro, mas o consenso aponta que o ciclo de redução de juros deve mesmo começar apenas em 2026, diante da persistente incerteza fiscal e política. As projeções para a taxa básica de juros ao fim do ciclo variam entre 12% e 13%, mas há quem condicione uma queda maior à condução da política econômica após as eleições presidenciais brasileiras.

Trump exibindo decreto sobre tarifaço global. Foto: Saul Loeb/AFP

Mesmo com o impacto político das tarifas de Trump, os economistas reforçaram que não há elementos para alterações significativas na trajetória da política monetária no curto prazo. Além disso, há expectativa de que o BC mantenha um discurso firme diante dos riscos ainda presentes no cenário internacional e no ambiente interno, principalmente considerando as tensões diplomáticas entre Brasil e EUA.

Os debates com o BC também abordaram a necessidade de o país se preparar para eventual instabilidade externa provocada pelas sanções americanas, ainda que o efeito sobre a atividade econômica seja considerado limitado até o momento. O governo Lula tem se articulado politicamente para enfrentar a ofensiva de Trump, mas os analistas alertam para a importância de preservar a estabilidade das contas públicas como escudo contra choques externos.

Nas próximas semanas, o BC deverá consolidar essas impressões em suas projeções oficiais, que servirão de base para as decisões sobre a Selic. O cenário internacional conturbado, somado à desaceleração da economia doméstica, coloca a autoridade monetária em posição de cautela, mesmo com os indicadores de inflação mais comportados do que o esperado no início de 2025.