Edgard Scandurra, Tony Bellotto e outros guitarristas falam do gênio de Lanny Gordin

Atualizado em 6 de dezembro de 2023 às 20:22

No dia 28 de novembro de 2023 se fechou um capítulo da história da música pop brasileira com a morte, aos 72 anos, de Lanny Gordin — no dia de seu aniversário. Lanny era um mito que o grande público não teve a oportunidade de conhecer a fundo.

Lanny era delicado e frágil, não suportou bem as experiências lisérgicas do final dos 60 e começo dos 70 mas mesmo assim esteve sempre em atividade, sem os holofotes do tropicalismo mas resilientemente emprestando seu talento único aos mais diferentes projetos, era uma potência como artista, criador de misturas e estilos no fraseado.

Em meados dos 80, virou referência para muitos jovens que buscavam na sonoridade vintage um caminho de pesquisa para os primeiros passos.

Lanny foi o cara que abriu espaço para Pepeu Gomes ao chegar da Bahia e também para Hermeto Pascoal tocar em São Paulo na boate Stardust, propriedade de seu pai, Alan Gordin, músico de jazz de origem ucraniana que perambulou pelo mundo com sua mãe polonesa, ambos judeus errantes. Em uma das paradas se fixaram um período em Xangai, China, onde nasceu Lanny, seguindo a trajetória familiar, que após uma breve passagem por Israel veio para o Brasil.

O pai o ensinou a tocar de tudo para ser um músico eclético e versátil, tocava toda noite na boate, sua escola e universo. Lanny queria mais, queria voar.

O documentário “Inaudito” de Gregorio Gananian & Danielly O., conta boa parte dessa históra. A senha é “embauba”.

Recolhi depoimentos de alguns desses parceiros de estrada e fãs do mestre.

Viva Lanny!!

Skowa Santos (Sossega Leão/ Skowa & A Máfia / Banda Performática)

“Toquei na banda Performática com ele. Além do guitarrista excepcional que era, era uma pessoa muito doce e com um espírito transcendente. Um ser especial, que morreu no dia do aniversário. Cumpriu um ciclo perfeito”.

André Jung  (Baterista dos Titãs/ IRA / Banda Performática/ Sossega Leão)

“Lanny era nossa referência maior, ouvi seus arranjos nas obras da Tropicália e depois estava com amigos a buscá-lo pela noite paulista. Tocar com ele era uma sensação diferente, sua música tinha leveza e profundidade”.

Apollo9 (Guitarrista e produtor / compositor)

“Lanny foi o maior, mais influente e mais abrangente guitarrista brasileiro. Uma alma generosa e bondosa, e um gênio no estúdio, eterno”.

Lanny Gordin

Renato Anesi (Multiinstrumentista / arranjador e compositor)

“Lanny mostrou ao mundo múltiplas possibilidades musicais e humanas. Sua guitarra conta muito da historia da humanidade. Pessoa doce e transcendente, verdadeiro e espontâneo. A mídia sensacionalista tenta reduzir a uma historia psicodélica que levou um gênio à loucura. Mas o universo perceptivo dele é infinitamente vasto.”

Tony Bellotto (Guitarrista e compositor / Titãs)

“Lanny Gordin influenciou muito a todos nós, Titãs, pois ele foi o mais roqueiro dos guitarristas do tropicalismo. Apesar da técnica perfeita, que abrangia também o jazz, a atitude do Lanny sempre foi muito roqueira, fazendo a guitarra transcender no sentido hendrixiano.”

Gregorio Gananian (Cineasta, diretor de “Inaudito”)

“Lanny ecoa: obrigado por ter dedicado sua vida ao amor: fazermos um filme juntos foi uma honra, brasil-china: voar sobre o mar, filmar: amplificar.  te amamos , aprendemos com você que a morte não existe porque tudo é som, inclusive o silêncio: música, o cinema do som. Viva Lanny Gordin”

Sandra Coutinho (Baixista e compositora – Marcenárias)

“Ele falava meu nome em partes, porque tinha uma gagueira, e me chamava no diminutivo ‘Sansandridrinha’. Ele não se deslocava sozinho pela cidade. Parecia um duende, provocando com suas melodias mirabolantes, harmonicamente dissonantes. Encarando no olho a olho observando a reação. Quando penso no Lanny eu vejo seu sorriso de irê, maroto, presente”.

Aguilar (Artista plástico, Banda Performática)

“Lanny Gordin era uma pessoa iluminada. Em vários shows da Banda Performática ele começava a tocar e todos paravam para o escutar. Só existia o som da guitarra do Lanny! Ele era maravilhoso, tem um papel fantástico na iluminação pudica pessoal que vai além da luz, além da escuridão, além dele mesmo segundo suas palavras”.

Edgard Scandurra (Guitarrista / Cantor e compositor – IRA)

“Perdemos o maior guitarrista do Brasil. O maior não pelo virtuosismo ou exibicionismo. O maior por sua técnica, simplicidade e humildade. A genialidade. Com toques aparentemente ingênuos, mas de extrema sofisticação. Lanny, você  voou muito alto e nenhum outro cara conseguiu te atingir. Muito obrigado pelas aulas e pela genialidade! Lanny, meu herói”.