No primeiro aniversário da morte de Pelé, que ocorreu em 29 de dezembro de 2022, o ex-goleiro e técnico Edinho defendeu, em entrevista ao Estadão, o legado do pai na luta antirracista no Brasil e mundo. Ele destacou que a genialidade de Pelé e o reconhecimento como Rei do futebol elevaram os negros a um novo patamar.
Confira alguns trechos:
Pelé já sofreu críticas por ter evitado se envolver na discussão do preconceito racial, sendo comparado a Muhammad Ali, por exemplo, que levantava essa bandeira nos EUA. Já a sua irmã Kelly assume a condição de ativista antirracista. Como você se posiciona?
A comparação com o Muhammad Ali é frágil, como seria também com o Nelson Mandela, porque o Pelé teve a sua história, a sua trajetória, a sua experiência, e esses outros seres humanos também tiveram as suas em lugares do mundo completamente distintos, um na África, um na América e meu pai aqui no Brasil. Então ele nunca teve esse lado militante, como minha irmã hoje. Ela vive numa era diferente, que tem caminhos mais claros e mais seguros para se expressar.
O Pelé viveu numa época de ditadura. Ele teve de ter coragem para ser o que foi, com dignidade, hombridade e serenidade. As pessoas desapareciam nessa época, sumiam da face da Terra. Quem levantava a mão eventualmente acabava ficando sem a mão, e ele, mesmo assim, sempre com a cabeça erguida. Sempre representando o negro, sendo um representante do negro que o mundo inteiro tinha como referência, como inspiração. O mundo inteiro podia olhar e falar: “Tem um rei preto lá no Brasil! Então, se tem um rei preto lá, eu posso ser um rei preto”.
Todos os negros se sentiam representados por ele. Para mim, historicamente, isso vai ser um legado muito mais importante em se falando da luta do negro na humanidade do que ele possa ser cobrado no sentido prático, momentâneo. A sua história de vida foi a grande contribuição que ele fez pra humanidade, para o negro da Terra. Não é fácil saber se conduzir, saber entrar e sair, saber ser idolatrado e representar o país que muitas vezes não o tratou com respeito.
De que forma ele foi desrespeitado no Brasil?
Minha mãe conta que houve uma dúvida se ele ia participar ou não da Copa de 70. Ele estava um pouco desiludido diante da última Copa em que se lesionou (1962) e da outra que não foi um sucesso (1966). Enfim, ele ponderou não participar. E em determinado momento, minha mãe falou que ele estava viajando e chegaram em casa dois homens de preto, entraram e falaram: “Olha, é o seguinte: melhor teu marido considerar, é bom ele jogar essa Copa, vai ser bom para vocês, vai ser bom para ele…” Isso mais de uma vez… e cartas anônimas. Embora o mundo já o reverenciasse como rei, no país dele era mais um preto que estava a comando do interesse do Estado ali do momento, que tinha ele como o grande garoto-propaganda. (…)
Assista abaixo:
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