Editora se demite após jornal alemão publicar artigo de Musk citando Hitler a favor da extrema-direita

Atualizado em 28 de dezembro de 2024 às 15:25
O bilionário Elon Musk, dono da Tesla e do X (ex-Twitter) teve o patrimônio duplicado em dez anos. Foto: Benoit Tessier/Reuters

Elon Musk se envolveu diretamente na campanha eleitoral alemã ao publicar, no último fim de semana, um artigo na versão dominical do Die Welt defendendo o partido de extrema direita AfD. “A Alemanha se tornou muito confortável na mediocridade. É hora de mudanças ousadas, e a AfD é o único partido que abre esse caminho”, escreveu o bilionário, chegando a mencionar Adolf Hitler para argumentar que a sigla não pode ser considerada extremista. “Isso soa como Hitler para você? Por favor”, provocou Musk.

A repercussão foi imediata e culminou na demissão de Eva Marie Kogel, editora de Opinião do jornal. “Apresentei a minha demissão após o jornal ter sido impresso”, anunciou ela no X (antigo Twitter). A editora afirmou que sempre havia apreciado seu trabalho, mas não concordava com a decisão de publicar o texto de Musk, vista como propaganda eleitoral a poucos meses das eleições parlamentares na Alemanha, marcadas para 23 de fevereiro.

No artigo, Musk defende a posição do AfD ao criticar a classificação do partido como “extremista”, apontada pelo órgão alemão de proteção à Constituição. Para reforçar seu ponto, cita o fato de a candidata e líder da sigla, Alice Weidel, ser casada “com uma mulher do Sri Lanka”. Ele também questiona o estado atual do país, afirmando que a Alemanha estaria “à beira do colapso econômico e cultural”, em tom descrito como alarmista pela revista Der Spiegel.

A direção do Die Welt relatou ter debatido o risco de o texto ser encarado como apoio eleitoral. Vários editores se manifestaram contra a publicação, mas o novo editor-chefe, Jan-Philipp Burgard, decidiu seguir adiante. Em contrapartida, ele mesmo escreveu outro artigo, descrevendo a declaração de Musk — “apenas a AfD pode salvar a Alemanha” — como “fatalmente errada”. “Musk parece ignorar o quadro geopolítico no qual a AfD quer posicionar a Alemanha”, criticou Burgard.

Em seu texto, Burgard lembrou ainda que a sigla defende a saída do país da União Europeia e projetos de “reimigração” em massa, medidas consideradas por ele “xenófobas” e “perigosas para a Alemanha”. “Isso seria uma catástrofe”, enfatizou o jornalista, em clara divergência com as ideias do bilionário.

O Die Welt pertence ao grupo Axel Springer, um dos maiores conglomerados de mídia da Europa, que também publica o jornal sensacionalista Bild e é dono do site Politico. As informações são da Folha de S. Paulo.

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