Editorial do Estadão mente ao afirmar que PT nunca trabalhou pelo impeachment de Bolsonaro

Atualizado em 24 de setembro de 2022 às 11:13
Estadão

Em editorial publicado em sua edição deste sábado (24), o jornal “O Estado de S. Paulo” defendeu a necessidade de que haja um segundo turno na eleição presidencial, afirmando que há um “clima de constrangimento a quem não adere ao lulismo no primeiro turno” e que “há uma desqualificação de toda intenção de voto que não seja no candidato do PT”.

Embora não condene o pedido pelo voto útil, o jornal diz que “atenta contra a liberdade política desqualificar o voto em candidatos mal posicionados nas pesquisas de opinião em razão de eventuais efeitos sobre a realização ou não de um segundo turno.”

O posicionamento à direita do jornal é histórico e não surpreende, o problema do texto é que ao fundamentar a tese que defende recorre a inverdades sobre o posicionamento do Partido dos Trabalhadores. Leia esse trecho, aqui trazido na íntegra:

Aos que alegam a imensa excepcionalidade dos tempos atuais para defender o voto em Lula no primeiro turno, pois não seria prudente dar a Bolsonaro nenhuma chance de vitória, cabe fazer duas perguntas.

Primeira: o PT defenderia o voto em algum candidato de outro partido que estivesse mais bem posicionado nas pesquisas? A julgar pelo histórico do partido, que jamais apoiou nada que não fosse petista, a resposta é não.

Segunda: por que o PT, tão preocupado com as ameaças bolsonaristas à democracia, não trabalhou pelo impeachment de Bolsonaro? Ocasiões, motivos e clamor popular não faltaram. No entanto, Lula e o PT acharam que era preferível vencer Bolsonaro nas urnas. Ou seja, julgaram que manter Bolsonaro na Presidência poderia ser útil para alimentar a polarização que os petistas sabem explorar como ninguém.

Em relação à primeira pergunta, cabe lembrar que o país encontra-se em uma situação excepcional, pois nunca antes houve uma ameaça tão explícita à democracia vinda de um concorrente que ocupa o Palácio do Planalto. Cabe também lembrar que desde 1989 não existe segundo turno em eleição presidencial sem a presença de um concorrente do partido, exceto 1994 e 1998, nas quais não ocorreu o segundo turno.

Sobre a segunda questão, cabe lembrar que o PT começou a trabalhar pelo impeachment de Bolsonaro em 2020, tão logo ficou evidenciado o papel que Jair Bolsonaro estava exercendo na má gestão do país durante a pandemia.

De acordo com compilação feita pela Agência Pública, somente o Senador Jean Paul Prates (PT-RN) apresentou seis pedidos de impeachment contra o atual mandatário. No total, foram pelo menos 8 solicitações encaminhadas por representantes do partido, além da convocação e participação de todos os atos em protesto contra o governo convocados, mesmo durante a pandemia.

Em entrevista concedida à DCM TV em setembro de 2021, Fernando Haddad foi categórico: “A obrigação de todo partido progressista é lutar pelo impeachment de Bolsonaro. Ele é um risco real à vida das pessoas, aos empregos, à economia, ao meio ambiente, à imagem do Brasil no exterior”.

A presidente do partido, em outubro do mesmo ano, por sua vez, também defendeu a participação da sigla nos pedidos de impeachment contra Bolsonaro: “Temos uma linha no partido muito clara e desde o início nós nos posicionamos pelo impeachment”, apontou Gleisi. “Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade, crimes comuns. Por muito menos tiraram a Dilma, que foi um golpe. Que, aliás, trouxe toda essa desestabilização que nós estamos vivendo.”

Desta forma, fica claro que o jornal mais uma vez adequou a realidade para fazer caber a sua opinião. Diante da aparente inexorabilidade da vitória de Lula, escolhido pelo jornal como inimigo desde o início dos anos 80, fica claro que quanto menos forte ele sair das urnas, ainda que vitorioso, melhor para o jornal e, principalmente, para os interesses que ele representa.

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