“Editorial do Globo mente e desinforma”, diz Marco Aurelio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas

Atualizado em 24 de abril de 2021 às 9:06

 

O jornal O Globo publicou em sua edição desse sábado (24) um editorial onde pranteia o fim da Lava-Jato e aponta que o Ministro Luiz Edson Fachin manobrou para obter um determinado resultado. O coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, enviou ao DCM suas considerações sobre a opinião do jornal carioca:

Uma vez mais, o editorial do Globo mente e desinforma .
Os efeitos do julgamento que confirmou a constrangedora e criminosa suspeição do ex-juiz Sérgio Moro apenas recairão sobre os processos que envolvem o ex-presidente Lula.
A referida decisão foi uma demonstração de vitalidade das nossas instituições e da capacidade de reacreditação do nosso Sistema de Justiça.
O jornal O Globo colaborou de forma decisiva para que alguns agentes do Estado, coordenados por um “juiz-herói”, corrompessem regras básicas do nosso Estado de Direito.
Aplaudidos pelos colunistas-torcedores do Jornal, os “meninos dourados” de Curitiba ( Deltan e cia… ) , violaram a paridade de armas, o direito de defesa, as regras de competência, inúmeros vetores éticos e o devido processo legal de um modo geral.
O editorial lança, também, uma grave acusação ao Ministro Fachin, acusando-o de agir estrategicamente para obter determinado resultado.
Grave e muito preocupante!
Fica a lição de que o direito pode até ser um instrumento de poder, mas é também um poderoso instrumento de Justiça!
O Globo confirma, definitivamente, que os que não sabem perder não merecem ganhar…

A propósito, abaixo segue a nota oficial do Grupo Prerrogativas sobre a votação da última quinta-feira:

O grupo Prerrogativas, composto por juristas, professores e professoras do direito, advogadas e advogadas, acompanhou com atenção a sessão de julgamento do plenário do STF desta quinta (22/4/2021), na qual formou-se maioria de sete votos a dois em prol da confirmação da decisão da 2ª Turma do Tribunal que havia proclamado, em 23/3/2021, a parcialidade/suspeição do então juiz Sergio Moro ao processar, julgar e condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 13ª Vara Criminal de Curitiba.

            Para os integrantes do grupo Prerrogativas, os pronunciamentos majoritários dos ministros na sessão de ontem concretizaram um significativo ponto de inflexão no sentido da recuperação plena da missão institucional do Supremo como guardião da Constituição da República, sobretudo no que se refere à defesa da integridade dos direitos fundamentais nela inscritos. O plenário da Corte também cuidou de resguardar a integridade das normas procedimentais, ao promover a conservação da competência regimental de uma de suas Turmas. A decisão de ontem sinaliza que o processo judicial não é um vale-tudo, em que se admitam manobras desatinadas para impor determinados pontos de vista. O plenário do STF emitiu, assim, uma mensagem nítida em favor do devido processo legal.

            Outra observação relevante que se extrai dessa sessão de julgamento do plenário do STF é o isolamento a que foi submetida uma minoritária tentativa de converter o debate jurídico num espetáculo canhestro de irresponsável politização. Não parece haver no Supremo mais espaço significativo para esse tipo de desvio, fundado na retórica sensacionalista que persegue adversários e concebe a sobrevivência de falsos heróis.

Enquanto a maioria dos ministros e ministras ontem primou pela apreciação estritamente técnica e fundamentada em normas jurídicas, houve quem desbordasse completamente desses limites. Em nada contribui para o aperfeiçoamento das instituições o recurso exasperado da corrente vencida e dos seus apoiadores a argumentos estranhos ao critério jurídico, muito menos o uso lastimável de investidas contra a integridade e a honradez dos ministros e ministras vencedores, que exercitaram seu encargo com absoluto compromisso e altivez.

Ao ratificar a anulação de abusos judiciais praticados por um juiz suspeito, a maioria do plenário do STF não arreda um milímetro da observância do princípio da moralidade. Ao contrário, o aplica de modo acertado. Nisso não há debilitação do combate à corrupção, antes o seu fortalecimento, com o expurgo de inaceitáveis desvios ilegais.

O ocaso da Operação Lava Jato descortina a trilha insensata percorrida por seus protagonistas que, associados de maneira irregular e clandestina ao juiz da causa, converteram a sua atuação num obstinado complô persecutório de inspiração política. Os procuradores da Lava Jato e o então juiz Moro consideravam-se acima das normas legais, como se fossem agentes de uma cruzada moralizante. E nessa condição, com apoio midiático incondicional, cometeram toda sorte de excessos e abusos, especialmente contra o alvo preferencial e simbólico que elegeram: o ex-presidente Lula.

Na sessão de ontem, a maioria do plenário do Supremo emitiu uma resposta contundente ante tais deformações institucionais patrocinadas pela Lava Jato. Ministros e ministras que votaram para confirmar a odiosa parcialidade de Sergio Moro como julgador de Lula, devidamente assentada no veredito regular da 2ª Turma do Tribunal, rejeitaram o expediente tentador e falacioso do moralismo prepotente. E contestaram de forma cabal a ilação desonesta de que estariam a corroborar atos de corrupção, ao cumprir a sua elevada tarefa de julgar de acordo com o Direito e proteger regras legais e a prevalência da Constituição.

Com a decisão de ontem, pode-se afirmar que a maioria dos integrantes do STF delimitou adequadamente a sua missão, ao prestigiar a estabilidade procedimental e os valores de sobriedade, prudência e equilíbrio no exercício da função judicial, superando deploráveis esforços de subversão do papel da Corte, que ainda insistem em submetê-la a desígnios oportunistas, fomentados pela manipulação midiática.