Eduardo Bolsonaro está desmoralizado após Trump tirar sanções de Moraes, dizem aliados

Atualizado em 13 de dezembro de 2025 às 7:52
Eduardo Bolsonaro em evento conservador nos EUA. Foto: Saul Loeb/AFP

A decisão do governo Donald Trump de derrubar as sanções previstas na Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, teve um efeito político imediato em Brasília: expôs o isolamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e esvaziou a estratégia internacional do bolsonarismo.

Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, essa é a leitura reservada feita por parlamentares do PL e por integrantes da tropa de choque do ex-presidente, ouvidos nos bastidores.

Para aliados, o movimento representou uma derrota em série. “A direita só perdeu com essa história e o Lula saiu gigante”, resumiu um senador ao avaliar o impacto combinado da decisão de Washington e do cenário interno.

O diagnóstico leva em conta não apenas a revogação das sanções, mas o contexto mais amplo: Jair Bolsonaro foi condenado pela Primeira Turma do STF a 27 anos e três meses de prisão pela trama golpista, perdeu a prisão domiciliar e viu o filho Eduardo ser colocado no banco dos réus por articular punições contra autoridades brasileiras em solo estadunidense, além de ter o mandato ameaçado de cassação.

Nos bastidores, a avaliação é dura com o deputado. “É a pá de cal no Eduardo, que é muito arrogante. Foi por terra a ilusão de que ele era ‘o cara’ nas articulações com o governo americano”, disse um interlocutor próximo de Bolsonaro, que há meses considerava a ofensiva externa um “tiro no pé”. A percepção é a de que a estratégia elevou o custo político do bolsonarismo sem produzir ganhos concretos.

Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colheu dividendos. Além de avançar na negociação para remover o tarifaço contra produtos brasileiros, o Planalto passou a explorar a defesa da soberania nacional como eixo político, em contraste com o campo bolsonarista, que chegou a exibir uma bandeira gigante dos Estados Unidos em manifestação na Avenida Paulista no 7 de Setembro.

O presidente Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Foto: Agência Brasil

A ironia ganhou tom público quando Lula passou a chamar Eduardo de “meu camisa 10”, atribuindo às sanções um papel indireto na recuperação da popularidade do governo. Em Brasília, o rótulo pegou: o deputado virou “cabo eleitoral” do petista.

A comparação esportiva também apareceu entre aliados do PL. “Foi uma decisão errada do Eduardo. Saiu com bola e tudo pela linha de fundo. Foi um 7 a 1”, comentou outro senador bolsonarista.

A crítica se soma à constatação de que a manutenção das sanções não atendia aos interesses da política externa estadunidense. Integrantes do governo dos EUA classificaram a medida como “inconsistente” com as prioridades de Washington.

No mesmo pacote de sinais, a Casa Branca considerou um “passo na direção certa” a aprovação do PL da Dosimetria, que pode reduzir o tempo de prisão de Bolsonaro e acelerar a migração ao regime semiaberto. Pelas contas do relator na Câmara, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), o ex-presidente cumpriria cerca de dois anos e quatro meses, hoje, a projeção é de algo em torno de seis anos e nove meses.

Em agosto, Moraes havia autorizado a prisão domiciliar, revertida dois meses depois paara custódia na superintendência da PF em Brasília após a violação da tornozeleira.

Após conversa entre Lula e Trump, aliados de ambos os lados já esperavam um gesto de distensão entre Washington e Brasília. Os bolsonaristas, inclusive, se preparavam para “o pior dos cenários” e ensaiavam uma nova narrativa.

Ela veio a público com o próprio Eduardo, que reagiu no X após a reversão das sanções: “Somos gratos pelo apoio que o presidente Trump demonstrou ao longo dessa trajetória e pela atenção que dedicou à grave crise de liberdades que assola o Brasil”.

“Lamentamos que a sociedade brasileira, diante da janela de oportunidade que teve em mãos, não tenha conseguido construir a unidade política necessária para enfrentar seus próprios problemas estruturais. A falta de coesão interna e o insuficiente apoio às iniciativas conduzidas no exterior contribuíram para o agravamento da situação atual”, lamentou o fugitivo na publicação.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.