Eduardo Cunha, presidente do Estado Evangélico do Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de junho de 2015 às 12:26
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Eduardo Cunha aparelhou e domesticou o legislativo com seu time de evangélicos. No vácuo de poder deixado por uma presidente enfraquecida, ele é, efetivamente, quem pauta a agenda política.

O estilo cesarista casa perfeitamente com o medievalismo de seus aliados pentecostais. Aos poucos, diante de pouca ou nenhuma resistência, eles foram entrando como ratos em cada cômodo da casa.

Cunha anunciou que acha normal manifestações religiosas na Câmara, como a que aconteceu na semana passada quando deputados rezaram o Pai Nosso e berraram “Viva Jesus” num protesto contra a Parada Gay. Absolutamente à vontade, os pseudo ultrajados passearam pelas tribunas, subiram na mesa, fizeram o diabo.

Foi tudo planejado na véspera com Cunha, embora ele afetasse surpresa quando lhe foi cobrada a afronta à laicidade. “Não posso impedir a manifestação do parlamentar, não posso calar a boca de parlamentar, como não impedi de bater panela”, disse.

A ocasião faz o ladrão e Cunha aproveitou para dar caráter de urgência a um projeto de lei que criminaliza a “cristofobia”. Não foi, evidentemente, a primeira demanda evangélica a que ele dá sustentação e prioridade total.

Anunciou que aborto não vai pautar nem que a vaca tussa, mas reenviou o projeto de proibição de adoção de crianças por casais homossexuais. Ressuscitou a palhaçada do Dia do Orgulho Hétero.

Nomeou para a Diretoria de Recursos Humanos uma certa Maria Madalena da Silva Carneiro, evangélica, advogada e teóloga (pobres teólogos, deus os livre e guarde). Maria Madalena cuidará de 80% do orçamento da Câmara (4,189 bilhões de reais).

Ela não passou por concurso público. Uma semana antes da indicação, Cunha conseguiu a aprovação do plenário de um projeto que lhe deu o poder de escolher o secretário de comunicação social. Chamou o deputado Cleber Verde, da bancada da Bíblia, cujo Partido Republicano Brasileiro é ligado à Igreja Universal.

Incorporou no pacote fiscal uma isenção tributária às igrejas que, se aprovada, pode resultar na anulação de impostos de igrejas que remontam a mais de 300 milhões de reais. Falta a sanção de Dilma.

Algumas das atitudes de Cunha são mais abertas que outras. Na surdina, por exemplo, loteou o nome de Jesus Cristo na internet. Todas as variações de JC com o termo “facebook” são dele, como ”jesusfacebook.com.br”, “facebookjesus.com.br” e “facejesusbook.com.br”. São 212 nomes de site com cunho religioso, 154 deles mencionando “Jesus”.

Por trás de tanta preocupação com a moral e os bons costumes está a tentativa de não se chamuscar na Lava Jato. Na quinta feira passada, quando houve a convocação de Paulo Okamoto, do Instituto Lula, para depor, personagens que o comprometiam foram “poupados” e não foram chamados.

Nada vai parar Eduardo Cunha, o presidente do Estado Evangélico do Brasil. Nem Jesus. Pobre Brasil.