Eduardo Leite e a hipocrisia do PSDB no caso do prefeito que não admite “viadagem”. Por Leonardo Mendes

Atualizado em 27 de agosto de 2021 às 16:38
Reprodução

O jornalista Leonardo Mendes escreve sobre o tucano Eduardo Leite, pré-candidato, e o prefeito homofóbico.

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Eduardo Leite e o prefeito

O prefeito de Criciúma (Santa Catarina), Clésio Salvaro (PSDB), afirmou que não admite “viadagem” e assim justificou a demissão de um professor de Artes da rede municipal, que exibiu em sala de aula, para estudantes na faixa dos 14 anos, o clipe “Etérea”, do cantor Criolo.

A obra em questão não apresenta nada que possa ser considerado impróprio para adolescentes pela legislação vigente, e o que provavelmente atiçou a horda a atacar o professor foi que um homem aparece com figurino e maquiagem que por muito tempo nos acostumamos a ver somente em mulheres. Mas há apenas pessoas dançando, ao som de uma canção indicada ao Grammy Latino de melhor música em língua portuguesa.

A letra também pode ter incomodado fundamentalistas, já que fala de respeito, tolerância, e diferentes formas de amar, mas só mesmo a homofobia descarada, expressa na declaração do prefeito, explica o seu ato.

“Nós não permitimos, nós não toleramos. Está demitido esse, sei lá, esse profissional. Nas escolas do município, enquanto eu estiver aqui de plantão, isto não vai acontecer, este tipo de atitude. Essa ‘viadagem’ na sala de aula, nós não concordamos”

O fato impressiona de diversas maneiras. Primeiro talvez em função do entendimento estabelecido pelo STF de que homofobia é crime, e fosse o Brasil um país que cumpre as suas próprias leis, o prefeito teria sido preso em flagrante.

Em segundo, por ser um prefeito do PSDB, que estuda a viabilidade do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para a chamada terceira via da campanha presidencial.

Leite revelou recentemente no programa do Pedro Bial que é gay, e chocou assim um total de zero gaúchos. Mas fez questão de afirmar também que não era um gay governador, e sim um governador gay, seja lá o que signifique essa tolice.

Talvez seja uma forma de dizer que, apesar de gay, não se importa com as questões LGBTs. Hipótese corroborada pelo silêncio de Leite e de seu partido em relação ao caso de Criciúma.

O prefeito foi denunciado ao Ministério Público de Santa Catarina, enquanto o professor demitido saiu da cidade com medo das ameaças que vem sofrendo e não tem respondido as tentativas de contato da imprensa.

Em tempos sombrios do fundamentalismo ganhando força no mundo, Santa Catarina segue na vanguarda do atraso brasileiro, mas não são apenas os professores catarinenses que já não estão seguros, diante da ignorância orgulhosa e ao mesmo tempo ressentida que parte para o ataque. As escolas representam um campo de batalha importantíssimo nessa guerra, e os profissionais da educação são linha de frente contra a barbárie que nos ameaça. Merecem e precisam de todo o nosso apoio.