
A Polícia Federal revelou novas mensagens trocadas entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que reforçam as suspeitas de articulações internacionais envolvendo a família.
De acordo com o relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o parlamentar pressionou o pai a demonstrar apoio público ao então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, temendo que a ausência de um gesto pudesse prejudicar a relação política.
Nos diálogos, recuperados do celular de Bolsonaro no âmbito da Petição 14.129/DF, Eduardo alerta sobre o risco de Trump se afastar do Brasil. “Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter, se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta”, escreveu o deputado.
Em outro trecho, Eduardo tentou tranquilizar o pai em relação às investigações em curso no Brasil, mas mostrou preocupação com os desdobramentos no exterior. “Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que, por aqui, as coisas mudem. Mesmo dentro da Casa Branca tem gente falando para o 01: ‘ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima’.”
As mensagens, segundo os investigadores, demonstram que Eduardo acreditava ser estratégico manter o apoio de Trump, mesmo diante do cenário de crise enfrentado pelo pai no Brasil. Para ele, um gesto público seria indispensável para que o republicano não “passasse para a próxima”.
Na sequência das conversas, Eduardo reforça a necessidade de uma manifestação rápida. “Eu quero postergar este bom momento de agora, mas se o nosso cara vai encontrar o 01 sem nenhum tweet seu, te adianto que isto não será bem recebido.” Segundo a PF, Jair Bolsonaro teria concordado com a recomendação do filho.

O relatório da Polícia Federal aponta que a pressão por declarações públicas não tinha apenas caráter político, mas fazia parte de uma estratégia mais ampla para influenciar a narrativa internacional sobre as investigações em curso no Brasil.
Para os investigadores, a insistência do parlamentar em vincular a imagem do pai a Trump tinha como objetivo criar uma rede de apoio externo e aumentar a pressão sobre instituições brasileiras.
As mensagens estão entre as provas reunidas pela PF para sustentar o indiciamento de Jair Bolsonaro e Eduardo por obstrução de Justiça. Segundo o documento, os dois atuaram de forma coordenada para tentar interferir nos inquéritos relacionados à tentativa de golpe de Estado e à abolição violenta do Estado democrático de direito.
O relatório também indica que esse tipo de articulação internacional reforça a gravidade das acusações contra o ex-presidente e seu filho, pois demonstra a busca por apoio estrangeiro em um contexto de investigação criminal no Brasil. A PGR deve analisar o material para decidir se apresenta denúncia formal ao STF.