Educação sai da ‘anomia’ para entrar no ‘caos’ com novo ministro

Atualizado em 9 de abril de 2019 às 16:29
Abraham Weintraub. Foto: Reprodução

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

O perfil do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, na opinião de especialistas consultados pela reportagem de Cosmo Silva, na Rádio Brasil Atual, comprova que o governo Bolsonaro não tem um projeto para atender às demandas educacionais do país. Em pouco mais de três meses de gestão, o MEC coleciona dezenas de exonerações de cargos na administração, além de esta ser a segunda mudança no primeiro escalão do governo.

Executivo no mercado financeiro, o novo ministro, é professor universitário, discípulo do autoproclamado filósofo Olavo Carvalho, partilha da chamada disputa contra o “marxismo cultural”. Em seu perfil no Twitter, o presidente Bolsonaro justificou a nomeação devido à “ampla experiência em gestão” e “conhecimento necessário para a pasta”.

Na análise do coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, trata-se na verdade de uma certa continuidade da falta de projeto que já marcava a gestão anterior do então ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Segundo Cara, o ex-ministro deixou a educação em um cenário de “anomia” e a nova nomeação simboliza uma passagem para o estado de “caos”. O educador tem acompanhado as escolas do agreste nordestino, onde faltam materiais didáticos, escolares, estrutura, e até alimentação.

“A gente sai de uma situação de incapacidade de dar conta da política de educação e entra em um desalento caótico porque ninguém sabe o que vai acontecer daqui para frente. É uma nomeação que corresponde a um governo completamente descomprometido com os interesses da população”, afirma em reportagem de Cosmo Silva.

A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), deputada estadual Maria Izabel Noronha, a Bebel (PT), vê com desconfiança a escolha por um ministro considerado especialista em Previdência. “Moeda de troca, sem dúvida. Tudo isso que está acontecendo, se você pegar a reforma da Previdência, ela atende aos empresários e ao sistema rentista. Então o que está por detrás de uma pessoa do sistema financeiro para tratar de educação?”, questiona Bebel.

Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na edição desta terça-feira (9) do Jornal Brasil Atual, o presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), Celso Napolitano, comenta ainda as polêmicas em torno de Weintraub, que já chegou a afirmar, em setembro do ano passado, que nas universidades do nordeste não deveriam ser lecionadas as disciplinas de Sociologia e Filosofia. “Isso prova uma discriminação e, eu posso dizer, um racismo completo”, avalia Napolitano. “Uma pessoa que não tem a mínima qualificação, mesmo academicamente, porque ele nunca se preocupou com a questão educacional.”