Efeito Lula: Brasil dribla tarifaço e aumenta volume de exportações, mostra estudo

Atualizado em 22 de dezembro de 2025 às 10:05
Donald Trump e Lula. Foto: Ricardo Stuckert

As exportações brasileiras fecharam os primeiros onze meses deste ano com desempenho acima do esperado e atingiram o maior valor dos últimos dez anos para o período, mesmo após o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump. A combinação entre diversificação de mercados buscada pelo presidente Lula (PT) e maior peso de setores especializados ajudou a reduzir o impacto das sobretaxas e a diminuir a dependência do mercado estadunidense.

De janeiro a novembro, o Brasil exportou US$ 317,18 bilhões, alta de 1,8% em relação a 2024. O avanço ocorreu apesar da sobretaxa adicional anunciada em julho e aplicada a partir de agosto, que elevou a alíquota total sobre diversos produtos brasileiros para até 50%.

O impacto foi mais concentrado nos embarques para os Estados Unidos, mas acabou compensado pelo crescimento das vendas para outros destinos.

Estudo da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mostra que o efeito do tarifaço variou significativamente entre os setores exportadores.

Dos 30 setores que vendem para os EUA, 19 registraram queda nas exportações, somando US$ 21,2 bilhões entre janeiro e novembro, retração de 14,5% em relação ao mesmo período de 2024, quando ainda não havia tarifas adicionais.

Por outro lado, 11 setores conseguiram ampliar as vendas ao mercado estadunidense mesmo sob a vigência do tarifaço. Juntos, eles exportaram US$ 12,9 bilhões no período e cresceram 9,8% na comparação anual. Esse desempenho ajudou a conter a retração total das exportações brasileiras para os EUA, que ficou limitada a 6,7% no acumulado até novembro.

Vista aérea do Porto de Santos. Foto: reprodução

“O resultado do tarifaço foi assimétrico entre os setores”, afirmou Daiane Santos, pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), economista da Funcex e responsável pelo estudo, em entrevista ao Estadão. Segundo ela, os segmentos que avançaram nas vendas externas oferecem produtos com maior grau de especialização e alguma vantagem comparativa, como aviões, óleos combustíveis, carne bovina, suco de laranja, café, máquinas e equipamentos elétricos.

Outro fator relevante, segundo a economista, é a dependência dos importadores. “Quem precisa das máquinas brasileiras, mesmo com a tarifa importou. Isto é, pagou o preço, mesmo com a sobretaxação”. É o caso do café em grão, cujas exportações cresceram 6,8% em valor, e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que avançaram 11,3%.

Já entre os setores mais prejudicados pelo tarifaço predominam commodities e bens intermediários, produtos padronizados e facilmente substituíveis. Com isso, a participação dos EUA nas exportações brasileiras recuou para a faixa de 7% a 8% neste ano, após ter oscilado entre 10% e 12% em 2023 e entre 13% e 14% em 2024.

“Os EUA ainda têm participação relevante na nossa pauta de exportação, mas agora não são dominante, como foram no passado”, disse a especialista.

O impacto das tarifas ficou mais evidente em outubro, quando as exportações para os Estados Unidos caíram quase 40% na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo a economista do Itaú BBA, Julia Marasca. Em novembro, houve reação, após o recuo do governo Trump na aplicação da sobretaxa de 40% sobre mais de 200 produtos. “Trump voltar atrás na tarifa de 50% foi primordial”, afirma Daiane

No conjunto, o comércio exterior brasileiro surpreendeu positivamente. “Isso significa que as exportações, excluindo os Estados Unidos, estão crescendo” observou Julia. Ásia e América do Sul ganharam espaço, com destaque para China, Índia e Argentina, além de países europeus, do Oriente Médio e do Norte da África.

Até novembro, a balança comercial acumula superávit de US$ 57,8 bilhões. A projeção do Itaú BBA é de que o saldo chegue a US$ 65 bilhões em 2025, com exportações em alta mesmo diante do tarifaço, enquanto a redução em relação a 2024 será explicada principalmente pelo crescimento das importações.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.