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Efeito Waack: comediante amigo de Gentili dobra o racismo do jornalista da Globo em show. Por Sacramento

ATUALIZAÇÃO: Após a publicação deste texto, Lins retirou das redes o vídeo com a piada

Pior que defender William Waack é usar o episódio do vídeo racista como tema de comédia stand-up barata e ainda repetir a ofensa cometida pelo jornalista. Foi isso que fez um tal de Léo Lins, humorista do programa do Danilo Gentili.

Com essa credencial o mínimo que se espera dele são piadas do nível da quinta série e cheias de trocadilhos fáceis. É isso que ele fez em apresentação recente.

“Olha o tamanho da pica que ele arrumou. Se desse para materializar o tamanho da pica, aí sim faria sentido a frase ‘isso é coisa de preto’, porque né, de branco não seria nem perto desse tamanho”, disse, estendendo os braços em referência ao afastamento de WW do Jornal da Globo.

Aplausos…

Em seguida falou que WW é um jornalista premiado e “acabou de ganhar mais uma medalha de honra ao mérito da Ku Klux Klan”.

Na sequência, piadas a respeito da aparência do jornalista renderam disparos até para quem não tem nada a ver com a história.

“WW está acabado, ele trabalha de noite e não dorme, então ele está destruído. WW trabalha à noite há mais tempo que a Lua, o tamanho da olheira é maior que o peito da Christiane Pelajo (…). Acho que o olho dele consome mais pó que Fábio Assunção!”

Aplausos gerais…

Mas o pior ficou para o final.

“E que preconceito né, achar que porque o cara é negro vai ficar buzinando. Eu acho que os negros são os que menos buzinam, né, vai chamar atenção para carro roubado? Não, deixa quieto”.

Risadas e aplausos esfuziantes…

“Vou parando aqui, antes que eu vá para a cadeia com ele”, finaliza.

Óbvio que o medo de ser preso foi só mais uma chacota, mas o que Léo Lins exibiu em seu espetáculo, se é possível chamar disso, pode ser enquadrado como crime.

O jurista Sílvio Luiz de Almeida, professor doutor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama, disse em entrevista ao El País que o vídeo de WW tem elementos suficientes para sustentar uma ação criminal.

“Por seu cunho genérico, a piada pode ser enquadrada como crime de racismo, já que ofende a todas as pessoas negras. Cabe uma ação do Ministério Público, ainda que de caráter cível, para que esse tipo de conduta deixe de ser encarado como normal”, afirmou o jurista.

Diferentemente da injúria racial, quando a ofensa é direcionada a uma pessoa específica, o crime de racismo acontece quando a agressão atinge a toda uma coletividade. Ao contrário da injúria, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível.

A fala que encerra a apresentação de Léo Lins supera o comentário abjeto de WW. O mínimo que ele merece agora é a devida punição pelo crime cometido, para inibir outras gargalhadas nauseabundas provocadas por ofensas aos negros.

Marcos Sacramento

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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