
Roberto Beijato Junior é advogado do jornalista Luan Araújo, vítima do atentado armado da deputada reeleita Carla Zambelli (PL) perto da Avenida Paulista. Beijato é defensor das vítimas com a advogada criminalista Dora Cavalcanti. Ambos são membros do Grupo Prerrogativas.
Há um terceiro advogado no time, Renan Bohus. Os três estavam presentes no 4.º Distrito Policial de São Paulo neste sábado (29), véspera do 2º turno das eleições, onde Zambelli e seus assessores prestavam depoimento aos policiais.
Para Beijato, a deputada e seu assessor, que deu um tiro para o alto, poderiam ter sido presos em flagrante. O episódio abriu mais uma crise na campanha de Jair Bolsonaro.
O DCM fez uma entrevista com o defensor Roberto Beijato Junior.
Diário do Centro do Mundo: A Polícia Militar deveria ter prendido Carla Zambelli em flagrante pelo uso da arma sem ser em legitima defesa, mesmo ela sendo parlamentar?
Roberto Beijato Junior: Vou ser franco. Tanto a Carla Zambelli e o seu assessor que fez um disparo [de arma de fogo para o alto] no local tinham que ser presos em flagrante. O homem que fez esse disparo é um policial militar da ativa que estava fazendo a segurança dela.
O que eu entendo sobre a situação da Zambelli? Ela cometeu, pelo menos, o crime de ameaça, por ter apontado arma contra o Luan; porte ilegal de arma, porque ela desobedece a determinação do TSE, nas 24 horas antes das eleições, mesmo tendo porte legal; além de possível crime de racismo após o ato violento, em um vídeo contra Luan.
A deputada disse que ele estava ciente da decisão do tribunal sobre armas de fogo, hoje presidido pro Alexandre de Moraes, mas que estava descumprindo de maneira consciente o TSE. Falou em um vídeo para suas redes sociais. Vejo esses crimes por parte deles.
DCM: Qual a gravidade da ação violenta de Zambelli e até onde a investigação de Moraes pode avançar contra ela? A deputada pode ser cassada?
RB: Penso que ela pode ser cassada sim. Ela comete crimes gravíssimos. Estamos falando de uma deputada federal, numa via pública e cheia de pessoas, sacando uma arma diante de todos e caçando um alvo por vários metros, junto de seguranças que parecem capangas.
Isso é gravíssimo. A gente vive uma situação no Brasil, na minha opinião, tão calamitosa e absurda que a gente acaba quase se acostumando. Não podemos nos acostumar com isso. É um absurdo.
Eu acho que ela [Carla Zambelli] tinha que ser presa em flagrante, pelos crimes elencados. Pode gerar sim uma cassação do mandato dela porque uma condenação criminal gera suspensão dos direitos políticos. Então pode gerar perda de mandato para Zambelli.
DCM: O senhor teme que essa ação armada instigue outros atos armados nessas eleições de segundo turno?
RB: Temo. Vou ser sincero. Estou preocupado com o desfecho das eleições. Esse pessoal bolsonarista é imprevisível, tem armas nas mãos, são violentos e não vão se conformar com a derrota. Eles vão ficar instigando com essas fake news e vai ter um ou outro cometendo atos violentos.
Isso já vem acontecendo no país, para falar a verdade. Infelizmente estamos vivendo um ambiente hostil inspirado pelo presidente da República. Ele alimenta isso todo dia.
DCM: Como está o seu cliente agora? Vocês tomarão providências contra posts que mentem sobre a reação que ele teve diante de Carla Zambelli? Mentiras publicadas na internet que afirmam que ele “cuspiu” nela, entre outros posts.
RB: Luan está muito abalado. Falou rapidamente para a imprensa quando saiu da delegacia. Era uma pessoa comum, trabalhadora, que tem sua vida normal. Esse pessoal está agora divulgando o nome dele. Tem o medo de ter o endereço dele divulgado nas redes.
A gente pediu ao delegado, no momento do registro do boletim de ocorrência, para não constar o endereço do Luan. E o delegado acatou. Temos medo que isso vaze e ele seja alvo de uma retaliação. Ele tá muito preocupado com ele mesmo e com sua família.
Essa estratégia de obter indenização no caso dos posts com mentiras acredito que é válida. Mas confesso que não conversamos ainda a respeito disso. Falaremos no futuro, sem dúvida.
DCM: O Grupo Prerrogativas já se manifestou sobre o episódio. Você espera que outras entidades se manifestem?
RB: Espero que sim. Esse fato envolvendo a deputada Carla Zambelli é inadmissível e necessita de uma resposta. Senão estimula novos atentados armados. A presidência da Câmara, de Arthur Lira, deveria se manifestar. É uma deputada que integra a Casa que ele preside.
OAB precisa se manifestar e precisa ser unânime. Independentemente do seu lado político, o que aconteceu é inaceitável.