Ele sabia de tudo: Trump afunda no pântano de Epstein

Atualizado em 13 de novembro de 2025 às 11:28
Jeffrey Epstein e Donald Trump. Foto: Reprodução

O escândalo Jeffrey Epstein voltou a atormentar Donald Trump — e desta vez, com força total. Novos e-mails divulgados em Washington revelam que o nome do presidente aparece repetidamente nas trocas de mensagens do finado financista pedófilo e de sua cúmplice, Ghislaine Maxwell.

O caso, que já havia envergonhado príncipes e magnatas, agora ameaça corroer o coração da Casa Branca e reacende suspeitas de que Trump tenta esconder mais do que admite.

O governo republicano viveu um dia de caos político. A divulgação dos documentos, feita por democratas do Comitê de Supervisão da Câmara, derrubou qualquer tentativa da Casa Branca de abafar o caso. Os e-mails mostram Epstein e Maxwell discutindo Trump abertamente — inclusive em termos que sugerem proximidade. “O cachorro que ainda não latiu é Trump”, escreveu Epstein em 2011. Maxwell respondeu: “Tenho pensado nisso…”

Os republicanos tentaram minimizar o estrago, alegando que o nome oculto no e-mail era o de Virginia Giuffre, uma das principais sobreviventes da rede de tráfico de Epstein, morta por suicídio em abril. Mas o estrago já estava feito. As mensagens deixaram no ar uma pergunta incômoda: por que Trump luta com tanto afinco para impedir que o público veja os arquivos completos do caso?

A versão oficial da Casa Branca — de que os e-mails “não provam nada” — soa cada vez mais frágil. Outras mensagens, recuperadas do espólio de Epstein, mostram o financista descrevendo Trump como “insano”, “completamente maluco” e “sujo”. São palavras escritas entre 2017 e 2018, quando o bilionário já ocupava a Presidência.

“É claro que ele sabia das garotas”, diz e-mail escrito por Epstein em 2019. Foto: Reprodução

Pior ainda, o governo parece ter cavado a própria cova. Trump e a procuradora-geral Pam Bondi haviam prometido liberar os arquivos, mas recuaram subitamente, reacendendo a suspeita de um encobrimento. “Se não há nada a esconder, por que esconder?”, questionou o deputado democrata James Walkinshaw à CNN.

A tentativa de conter o escândalo foi grotesca. Fontes confirmaram uma reunião secreta na Sala de Situação da Casa Branca — espaço reservado para crises de segurança nacional — entre altos funcionários e a deputada republicana Lauren Boebert. O objetivo, segundo parlamentares, seria pressioná-la a retirar o nome de uma petição que obriga o Congresso a votar a liberação dos arquivos de Epstein.

O encontro, digno de um thriller político, só aumentou a suspeita de que o governo está em modo de pânico. “Jamais abandonarei outras sobreviventes”, reagiu a deputada Nancy Mace, ao confirmar que manterá sua assinatura na petição. O texto ganhou força e deve ser votado, contra a vontade explícita da Casa Branca.

Dentro do próprio Partido Republicano, cresce o incômodo com a insistência de Trump em manter tudo em sigilo. “Alguns colegas já me disseram que vão votar a favor da divulgação. Isso pode virar uma avalanche”, disse o deputado Thomas Massie. Outro republicano, Tim Burchett, foi direto: “Chega de enrolação. Deixem o povo ver tudo.”

A cada nova revelação, o caso Epstein deixa de ser um fantasma do passado e se torna um risco político real. As mensagens indicam que Trump sabia mais do que revelou — e o silêncio do governo só reforça a percepção de culpa. O presidente dos EUA, que sempre sobreviveu a escândalos por pura força de sua base fiel, agora enfrenta fissuras visíveis no próprio partido.

Epstein, o homem que sabia demais sobre o poder, pode ter levado segredos ao túmulo. Mas suas palavras ainda ecoam. E o “cachorro que não latiu”, como ele descreveu Trump, finalmente começou a uivar de dor.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.