Eleição de herdeiro político da ditadura de Stroessner mantém Paraguai na rabeira da América do Sul. Por Murilo Matias

Atualizado em 23 de abril de 2018 às 18:40
Mário Abdo Benítez

Menos de cem mil votos deram a vitória ao conservador Mario Abdo Benítez contra o campo progressista representado por Efraín Alegre.

Na eleição com menor participação popular desde a redemocratização em 1989, apenas 60% dos eleitores compareceram às urnas para reafirmar o Paraguai como polo conservador na região ao repetir a prevalência do Partido Colorado pelos próximos cinco anos de mandato presidencial.

Depois de uma campanha sem grandes emoções, os cidadãos experimentaram  momentos de ansiedade antes do resultado oficial que proclamou a permanência da direita no poder com a eleição de Mario Abdo Benítez para a presidência da república.

Contrariando as pesquisas de intenção de voto que chegavam a indicar vantagem de 20% para a chapa governista, a diferença ante Efrain Alegre, representante do campo progressista, foi inferior a 4% ou menos de cem mil votos, de acordo com os apontamentos do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE).

Sobre os vencedores, Abdo, mais conhecido por Marito, em seu discurso de vitória, ao mesmo tempo em que prometia trabalhar pela unificação nacional, elogiava e dedicava seu triunfo ao pai, secretário pessoal do ditador Alfredo Stroessner, protagonista de um dos mais autoritários regimes de repressão na América do Sul entre os anos 1960 e 1980.

A tradição partidária e o conservadorismo da sociedade contribuíram também para que a direita vencesse em 13 dos 17 estados em que se escolheram governadores.

Por outro lado, a Frente Gausu, cuja maior liderança continua a ser o ex-presidente Fernando Lugo, administrará somente a província de Caaguazú. Com relação ao Congresso, dentro do contexto de fragmentação das casas legislativas e do pouco espaço aos partidos da centro esquerda, foram eleitos o atual presidente Horacio Cartes pelo Partido Colorado e, pela Frente Guasu, o ex-presidente Fernando Lugo, que segue como uma das referências de popularidade, sobretudo entre as classes desfavorecidas.

“Os eleitores decidiram pela continuidade de um governo de direita, muito vinculado aos setores agroexportadores e sem resposta alguma à situação de emergência social que vive o país, onde mais de um quarto da população segue na miséria, apesar do PIB manter crescimento continuado de 4,5%. Paraguai segue como o país mais pobre da América do Sul no tempo em que o Partido Colorado comanda os destinos da nação, desde 1947. Nada faz acreditar que Abdo trará as respostas para elevar a qualidade de vida do povo paraguaio”, observa Guillermo Javier González, analista político e membro do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (CELAG).