
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou que as eleições de 2026 podem ser marcadas por interferência externa e influência do crime organizado, apontando esses fatores como riscos centrais ao processo democrático brasileiro.
As conclusões fazem parte do relatório “Desafios da Inteligência — Edição 2026”, no qual a agência lista ameaças ao pleito e à estabilidade institucional. Com informações da Folha de S.Paulo.
Segundo o documento, a possibilidade de interferência estrangeira “não pode ser subestimada”. A Abin afirma que campanhas de desinformação sofisticadas, ataques cibernéticos contra a infraestrutura eleitoral e financiamento oculto de grupos políticos ou movimentos antidemocráticos estão entre os cenários possíveis.
A agência ressalta que movimentos extremistas transnacionais compartilham táticas de manipulação, elevando a coordenação global contra democracias e afetando diretamente a soberania do país.
“Atores estatais ou não estatais podem ter altos incentivos para promover ações de desestabilização do processo eleitoral”, diz o relatório.
Nenhum país é citado nominalmente, mas interlocutores do governo Lula demonstram preocupação com os Estados Unidos diante de posicionamentos recentes do presidente Donald Trump sobre disputas eleitorais na América Latina.
Recentemente, Trump saiu em defesa do conservador Nasry Asfura na eleição de Honduras, chegando a ameaçar cortar a ajuda ao país caso seu favorito não vencesse. A mesma retórica foi adotada em relação à Argentina: o republicano declarou que seu apoio ao país dependeria de uma vitória do ultraliberal Javier Milei nas eleições legislativas.

A Abin também destaca que a IA generativa e os deepfakes ampliam o risco de manipulação digital, permitindo forjar falas, simular discursos e descontextualizar declarações com alta precisão técnica.
Crime organizado e radicalização
Outro foco de atenção é a atuação de milícias e facções criminosas, que exercem domínio territorial em áreas vulneráveis, influenciando campanhas, votações e até a indicação de candidatos. Há registros de coação direta de eleitores, financiamento ilegal e eliminação de adversários em algumas regiões.
A agência aponta ainda a radicalização religiosa, a polarização ideológica e a deslegitimação das instituições como elementos que fragilizam o ambiente eleitoral. Desde 2018, diz a Abin, a disseminação de notícias falsas sobre o sistema de votação gerou mobilizações que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Riscos tecnológicos além da eleição
Fora do campo eleitoral, o relatório cita mais quatro ameaças estruturais:
- necessidade de transição para criptografia pós-quântica,
- ataques cibernéticos autônomos baseados em IA avançada,
- vulnerabilidades em transações digitais,
- e riscos à soberania digital por falhas na proteção de dados sensíveis do Estado.