Eleitor de Lula, diretor de Tropa de Elite anuncia ter assinado ‘Carta’ do Direito da USP

Atualizado em 5 de agosto de 2022 às 6:24
José Padilha

Em entrevista concedida ao repórter Uirá Machado, da Folha de S.Paulo, o cineasta José Padilha anunciou ter assinado a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” que será lido na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 11 de agosto próximo.

Morador dos EUA, Padilha acompanhou a movimentação golpista de Donald  Trump e pretende evitar que isso se repita no Brasil: “Eu apoio o intento da carta. Ela me parece ter como intenção deixar uma declaração: se alguém resolver seguir o [Donald] Trump e questionar os resultados da eleição, saiba que já existe esse número gigante de pessoas que não vão aceitar isso”.

O cineasta acredita ainda que uma vitória de Lula, em quem votará, no primeiro turno diminuiria a sanha golpista do atual mandatário:  “Eu gostaria que essa eleição terminasse no primeiro turno e tendo a votar no Lula (PT) no primeiro turno”, diz Padilha. “Eu entendo que não há mais possibilidades de terceira via nessa eleição. Ganhar no primeiro turno seria o ideal, porque diminui muito a chance de o Bolsonaro (PL) ficar questionando a urna”.

Padilha, que dirigiu a polêmica série “O Mecanismo”, da Netflix, que retratava o que teria sido a Operação Lava Jato com uma visão bastante simpática à força-tarefa, hoje possui uma visão mais crítica: “Moro e o Dallagnol sabotaram a Lava Jato”,

José Padilha ao lado dos atores de ‘O Mecanismo’

Leia trechos:

O sr. disse apoiar a intenção da carta. Tem ressalvas em relação ao conteúdo?

 Eu não escreveria exatamente do jeito que ela foi escrita. Mas alguém tem que escrever a carta, e é melhor que sejam os advogados da USP do que eu (risos). Mas, se você olhar a carta, você vai ver que tem coisas ali que não são reais. De certa maneira, tem uma premissa embutida de que a democracia automaticamente solucionou certos problemas do nosso passado, o que de fato não aconteceu.

Pode dar um exemplo? Tem um trecho assim: “No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado”. É verdade que a ditadura pertence ao passado, mas a tortura pertence ao presente (…)

 

Em 2018, o sr. escreveu um artigo na Folha dizendo que tanto Fernando Haddad (PT) quanto Bolsonaro levariam o país para o brejo. Recentemente, porém, já disse que votará em Lula em eventual 2º turno. O que mudou?

As informações da Vaza Jato mudaram minha opinião sobre o que aconteceu nas últimas eleições. Eu tenho certeza absoluta de que estou certo quando digo que a lógica que organiza a política brasileira é a corrupção. A lógica que organiza a democracia brasileira, para ser mais preciso, é a corrupção. O maior problema do Brasil, na minha opinião, é a corrupção.

Eu e várias pessoas tomamos posições a favor da Lava Jato porque a gente viu, pela primeira vez na história do país, serem presos empreiteiros que faziam cartel, políticos que roubaram etc. A minha intuição foi apoiar a Lava Jato.

Mas eu deveria ter visto antes da Vaza Jato –e não vi— o acordo entre procuradores e juízes para tirar Lula da eleição. Então, naquela época, eu pensava que, se procedessem todos os processos contra o Lula e o PT, a eleição do Haddad seria caótica. Porque na sequência o partido dele ia ficar inviabilizado.

O Bolsonaro é caótico por definição. E lembro a você que escrevi esse artigo antes do primeiro turno. Era tipo: “Por favor, votem no Ciro [Gomes]”.

Agora a situação é diferente. O PT nunca foi julgado, porque depois de não sei quantos anos, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o foro estava errado. O Supremo submeteu o Brasil a um drama, a uma série de violências incríveis, inclusive violências políticas contra o Lula, e depois diz que o foro estava errado. É inacreditável.

Mas isso é outro assunto. Minha resposta é que eu gostaria que essa eleição terminasse no primeiro turno e tendo a votar no Lula no primeiro turno. Eu entendo que não há mais possibilidades de terceira via nessa eleição. Ganhar no primeiro turno seria o ideal, porque diminui muito a chance de o Bolsonaro ficar questionando a urna.(…)

O sr. já disse ter errado ao acreditar em Sergio Moro, inclusive em outros artigos na Folha. O que tem achado de ele e Deltan Dallagnol terem mergulhado ainda mais na política? 

Todo mundo tem direito político. Quem sou eu para cassar os direitos políticos do Deltan Dallagnol e do Moro? Mas o Moro e o Dallagnol sabotaram a Lava Jato. Eles poderiam ter feito uma investigação correta. Nada impedia. Poderiam não ter combinado as coisas entre si. O Moro poderia ter sido um juiz neutro, em vez de ser um juiz que instruiu a Procuradoria. Eles sabotaram a própria investigação e acharam que ninguém ia saber.