Eles fazem falta: onde foram parar os turistas japoneses?

Atualizado em 26 de setembro de 2012 às 8:24

Nenhum turista foi tão estigmatizado quanto o japonês. Acusaram-no de só andar em bando, de monoglota, o diabo. Suas indefectíveis câmeras eram motivo de inveja e, sobretudo, de chacota. Por causa da economia e das gripes aviária e suína, eles sumiram um tanto de circulação. Nos EUA, eram 5,4 milhões em 1997. Dez anos depois, 3,5 milhões. Na França, a queda foi de 18,5% em 2008 com relação a 2007. No Brasil, desceram da 14ª posição, entre os visitantes, para a 16a.
O desaparecimento deles é o fim, de certo modo, de um jeito puro de viajar. Poucos são tão deslumbrados, no bom sentido. A máquina, clicando ou filmando ininterruptamente, os grupos enormes com a guia de bandeirinha à frente, os sorrisos. Um senso de descoberta do mundo como não se verá. Certa vez, em Portofino, na Itália, senhoras em fila pintavam aquarelas. Barquinhos, tardinha… Cena banal. Mas todas elas, com lenço e chapéu para proteger-se do sol, retratavam aquilo com amor, concentradas e felizes como se aquele fosse o derradeiro pôr do sol.
Um jornal francês deu que, em média, 12 japoneses voltam de Paris precisando de terapia, vítimas de maus–tratos. Recentemente, um restaurante romano foi multado porque apresentou uma conta de 695 euros para um casal de japoneses que comera uma pizza. O casal protestou, o dono os ameaçou, uma autoridade romana estava no recinto e o estabelecimento pagou pela malandragem. Uma pesquisa do site Expedia, feita com 4 mil hoteleiros, os colocou como os melhores turistas do planeta. Na rabeira, ficaram os mal-afamados russos e chineses.
Numa visita ao Japão, estive no sítio de uma batalha do xogum Tokugawa, do século 17. De repente, um ônibus de excursão com 40 japoneses. Fotos, fotos, fotos. Ocorre que o lugar era ermo. Um descampado. Um nada. Tinha uma placa indicando o que ocorrera ali, e só. Eles estavam vendo o que eu não via: a beleza de um lugar histórico que só existia, de fato, na imaginação deles. Mas que nem por isso nãEles estavam vendo o que eu não via: a beleza de um lugar que só existia, de fato, na imaginação deles. Mas que nem por isso não merecia ser registrado. Isso é a arte de viajar. Banzai!

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Jota Pinto é autor do livro Confissões de Um Turista Profissional (Novo Contexto). Jota vai falar de suas viagens pelo mundo. Mineiro, fumante, heterossexual com uma escorregada em Paris nos anos de 1970. Ex-militante da organização terrorista Var-Palmares. Fundador, com Carlinhos de Jesus, da Academia de Dança Acadêmicos da Profilaxia. Reúne 253 destinos e alguns desatinos carimbados em seu passaporte. Casado em quintas núpcias com uma prima bem mais nova.