Eles querem (ou fingem querer) Bolsonaro como candidato em 2026. Por Moisés Mendes

Atualizado em 8 de setembro de 2025 às 13:36
Bolsonaristas durante ato na Avenida Paulista em 7/9. Foto: Nelson Almeida/AFP

Bolsonaro pode ter sido acordado da sesta do domingo com uma notícia: você é mesmo o candidato da velha direita, da nova extrema direita e do fascismo moderado para 2026.

Podem ter dito a Bolsonaro: sabemos que você está fragilizado fisicamente e não consegue ficar muito tempo em pé, mas é em você que Tarcísio, seus filhos Flávio, Eduardo e Carluxo e mais Malafaia e outros do entorno apostam.

A extrema direita levou tão a sério a ideia de que a anistia é algo possível que só se fala agora em Bolsonaro. Flavio vestiu a camiseta ‘Bolsonaro 2026’ na manifestação em Copacabana.

Acordaram Bolsonaro. Tarcísio anunciou que Bolsonaro é seu candidato no caminhão de Malafaia na Paulista. Repete-se pelo Brasil todo, a partir das aglomerações do domingo, que Bolsonaro é o candidato de Trump, Netanyahu, Milei, de Valdemar Costa Neto, de Ciro Nogueira e de todos os direitistas nacionais e internacionais.

Parece um paradoxo. Porque Bolsonaro manda dizer pelos filhos e pelos amigos que o visitam que está muito doente e fraco. Que não aguentaria uma cadeia. Que é um homem sem condições emocionais e físicas para enfrentar embates mais duros.

Mas seus liderados passaram a levar a sério o projeto de Bolsonaro para 2026, principalmente a partir das manobras de Tarcísio em Brasília na semana do começo do julgamento do núcleo golpista.

Está sendo testada a ideia de que a anistia pode prosperar no Congresso e de que Bolsonaro será ressuscitado pelo centrão e vai se levantar e andar.

Tarcísio de Freitas na Paulista

A defesa da anistia seria muito mais do que uma tentativa de fidelização da base bolsonarista, para que Bolsonaro se sinta à vontade e diga que Tarcísio é o homem da sua confiança.

As manifestações do domingo, com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel misturadas às bandeiras brasileiras, pode começar a dragar o bolsonarismo para o projeto da anistia como coisa factível. E a partir daí tudo pode acontecer.

Essa confiança fez com que os discursadores do domingo elevassem o tom dos recados ao STF e principalmente a Alexandre de Moraes. O ministro foi chamado de ditador e tirano por Tarcísio.

Flávio pediu a cabeça de Moraes numa bandeja. Michelle chorou e se referiu aos ministros do STF como “autoridades perversas”.

Pelo que eles andaram dizendo, Bolsonaro está mais vivo do que parece e deve se preparar, com doses fortes de óleo canforado, para sair do sofá e levar a sério a possibilidade de reagir e insistir na candidatura.

Resta saber se o próprio Bolsonaro se sente preparado para essa reviravolta. Sim, dirão que, mesmo livre da condenação criminal pelo golpe, restará a inelegibilidade determinada pela Justiça Eleitoral.

Mas aí a composição do TSE em 2026 será outra. Novos fatos criarão desdobramentos e irão produzir novos episódios.

Desde 2016, as facções da direita, da extremada à moderada, levam a sério o que as esquerdas subestimam. O imponderável tem jogado ao lado do fascismo.