Elio Gaspari e o atentado que não houve a Roberto Marinho. Por Palmério Dória

Atualizado em 15 de maio de 2018 às 17:16
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O “historista” Elio Gaspari

POR PALMÉRIO DÓRIA

O jornalista Elio Gaspari tem uma incrível vocação para entortar fatos históricos.

Na função de “historialista”, nem historiador nem jornalista, não perdeu a oportunidade de entortá-los em favor do comandante civil do golpe.

O castigo não veio neste caso em documentos da CIA, mas na forma do livro de um sinistro agente das trevas, Cláudio Guerra.

Vamos primeiro à entortada de Gaspari em fatos rememorados em O Globo:

“Na noite de 22 de setembro de 1976, Roberto Marinho, o dono do GLOBO, estava deitado na cama do quarto de sua casa, no Cosme Velho, e foi atirado ao chão. Uma bomba explodira embaixo da janela. Era o terceiro atentado da noite. Primeiro sequestraram Dom Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu e deixaram-no nu, pintado de vermelho na beira de uma estrada. Pouco depois, os terroristas foram à Gloria e detonaram um automóvel em frente à sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Daí, subiram para a casa de Roberto Marinho. A censura proibiu referências aos episódios.

Aquilo era pedra cantada. O general Ednardo D’Avila Mello fora demitido do comando do II Exército depois do assassinato do operário Manuel Fiel Filho, e o ministro da Justiça, Armando Falcão, avisara ao presidente Geisel que existia a “possibilidade de agressão a elemento dos meios de comunicação social, a pretexto de desagravar o Exército”. Dias antes, explodira uma bomba na ABI e outra na sede do Cebrap, o centro de pesquisas paulista fundado por Fernando Henrique Cardoso.

Assim como tinha garçom e cozinheiro, Roberto Marinho valia-se dos serviços do mais conhecido detetive particular do Rio. Era Bechara Jalkh. Ele trabalhou no caso por cerca de três meses e fechou o círculo. Os três atentados vinham de um mesmo núcleo. Com o tempo, soube-se que nele estava um sócio-fundador do Centro de Informações do Exército que servia no Serviço Nacional de Informações.”

A mansão do Cosme Velho agora é Instituto Casa Roberto Marinho, com primorosas coleção de obras modernistas e um moderníssimo jardim concebido por Burle Marx. Em sua inauguração, em abril de 2018, claro que todos os veículos das Organizações Globo deram destaque ao evento e seus convidados, como a atriz Fernanda Montenegro. Mas o célebre atentado foi solenemente ignorado, para não reavivar memórias inoportunas.

O “círculo” relatado por Gaspari não fechava com Roberto Marinho. O atentado era de mentirinha, contou em detalhes o facinoroso agente da ditadura Cláudio Guerra em Memórias de uma guerra suja. O livro, lançado em abril de 2012, foi boicotado pela Folha de S. Paulo e nas Organizações Globo. Na Folha por conta da notória colaboração do jornal com Operação Bandeirantes, precursora do DOI-Codi, cedendo seus veículos para campana e captura de “subversivos”. Novidade era a minuciosa versão de Cláudio Guerra para o atentado que não houve.

Agora vamos ao trecho do livro:

“A bomba que explodiu na casa do dono das organizações Globo foi, na verdade, parte de uma estratégia formulada por ele mesmo – Roberto Marinho.

Aquele negócio de explodir bomba lá na casa do Roberto Marinho foi simulado. Tudo foi feito a pedido dele, para não complicá-lo com os outros veículos de comunicação. Fomos nós que fizemos, na casa dele. Eu coloquei a bomba. Para todo mundo, ele foi vítima. Estourou a bomba lá, mas não houve danos, nem vítimas.

A ordem para executar o atentado partiu do Coronel Perdigão, a pedido do próprio Roberto Marinho. Ele alegava que era para poder se defender da desconfiança de suas relações com os militares.

Ele estava ficando visado pela esquerda, e pela própria imprensa. Achavam que ele estava apoiando a ditadura, por isso ele precisava ser vítima da ditadura para ficar bem com os colegas. Então ele próprio idealizou o plano. Pediu, segundo o Vieira e o Perdigão, que fosse vítima de um atentado.

E isso foi feito. Eu executei, com a cobertura de um policial civil, o Zé do Ganho, de São Gonçalo. Quem montou o artefato, quem colocou dentro da casa fui eu. A função da cobertura era me dar fuga de carro após a explosão.

Eu coloquei TNT, mas coloquei uma carga bem pequena. Eu usei aquela que é em tijolinho, que é mais potente, C4. C4 é mais potente que dinamite.

Coloquei numa varanda. Mas sempre atento para não causar muito dano material. Porque ali eu controlava. Já estava do lado de fora, quando, por controle elétrico, detonei a bomba. Eu sabia que não tinha ninguém em casa, aí eu apertei.

A casa estava vazia. Eu não sei se eles sabiam quando ia acontecer, isso eu não sei. Eu recebi orientação do dia e do horário que a missão deveria ser cumprida.”

Nada mais parecido com Roberto Marinho que Cláudio Guerra.