Elisa, ex-Sininho, ainda não explicou por que as Jornadas de Junho serviram como ninho para o ovo da serpente do fascismo

Atualizado em 9 de janeiro de 2020 às 17:03
Elisa, Baiano e Fauzi: três nomes das Jornadas de Junho

Uma das formas de tentar entender a natureza dos protestos de 2013 é a linha de continuidade. As manifestações daquele ano resultaram em Jair Bolsonaro e em figuras como Eduardo Fauzi, o terrorista que atacou o Porta dos Fundos.

Este é o fato incontroverso.

Mas protagonistas daquela jornada, como Elisa Quadros, insistem na versão de que o legado das manifestações foi a organização da esquerda, organização que teria se dado de forma horizontal, isto é, sem caciques.

“Criminalizar as jornadas de junho é criminalizar tudo que os movimentos sociais conquistaram desde então e, sim, muita coisa mudou. O fascismo cresceu, mas o movimento de esquerda também cresceu e de forma horizontal. Será que é por isso que incomoda tanto?”, escreveu, em artigo publicado no site Ponte.

Seria interessante que a ex-ativista esclarecesse onde estão os membros dessa organização horizontal para que eles possam também participar da resistência ao governo de extrema direita que têm destruído as conquistas históricas dos trabalhadores.

O texto da Elisa Quadros — que já foi conhecida como “Sininho”, codinome que hoje ela rejeita — foi uma resposta a publicações na imprensa sobre o vídeo em que ela aparece pedindo a liberdade do terrorista de direita Eduardo Fauzi.

O DCM foi um dos sites que divulgou o vídeo e escreveu artigos para interpretar essa manifestação de Elisa feita em favor de Fauzi, e de mais dois ativistas.

No texto-resposta, que o DCM publicou, Elisa reclama que não foi procurada para explicar o vídeo.

O DCM a tem procurado desde que ela usou a seção de comentários de um jornalista para dizer que gostaria de se manifestar, e pediu até o contato do site.

Só que Elisa até agora não aceitou o pedido de entrevista.

Ela se diz disposta a um debate sobre os erros e os acertos de 2013. “Está mais do que na hora”, diz. Se aceitar o pedido de entrevista do DCM, ela estará promovendo esse debate.

Mas será preciso enfrentar todas as questões sobre a presença da direita nas manifestações que começaram em junho de 2013. Eduardo Fauzi é inegavelmente um militante do fascismo. Mas há outros manifestantes com atuação nebulosa, como Jair Seixas Rodrigues, o Baiano, que se apresentava como ativista da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (Fist) e foi defendido por Elisa.

Baiano, que esteve preso em razão dos protestos, é uma pessoa que esteve nos Estados Unidos três vezes entre 2010 e 2011. Em seu perfil no Facebook, que está sem atualização desde 2014, ele atacava Lula e Dilma. Sobre Lula, chegou a dizer:

“Até quando vamos aturar este indivíduo e sua corja?”

Ele também compartilhou vídeo de um jornalista que atacava Dilma Rousseff.

Sua entidade, a Fist, continua ativa na militância dos sem teto, assim como Eduardo Fauzi, que hoje se encontra na Rússia e teve R$ 116 mil apreendidos pela polícia em um de seus endereços (ele diz que é do pai).

Em entrevista que deu depois do atentado ao Porta dos Fundos, Fauzi contou que mora em uma ocupação, que ele chama de invasão.

“Eu moro em um quarto com banheiro e sem janela em uma invasão que abriga camelôs e guardadores de veículos no pé do Morro da Conceição, na Zona Portuária. Saí de lá às pressas”, afirmou.

Essa ocupação está relacionada à Fist? É um possibilidade. O que um militante sem teto tinha tanto o que fazer nos Estados Unidos? É um dúvida intrigante. Por que Elisa defendeu esse militante quando ativistas amigos dela faziam greve de fome? É uma pergunta que Elisa poderá responder se aceitar dar entrevista para o DCM.

O espaço também está aberto para manifestação do Baiano.

Postagem de Baiano, outro ativista defendido por Elisa.