Elon Musk está fora de controle: algumas maneiras de colocá-lo na coleira

Atualizado em 2 de setembro de 2024 às 17:32
X começou a sair do no Brasil na madrugada deste sábado (31.ago.2024); na imagem, o dono da plataforma, Elon Musk.

Na última semana, o bilionário sul-africano Elon Musk esteve no centro do debate midiático brasileiro. Ao descumprir determinações do Supremo Tribunal Federal, o Twitter – controlado por Musk – teve seu funcionamento proibido no Brasil.

Esta não é a primeira vez na qual Musk esteve diretamente envolvido na política interna de outros países. Em 2020, ele afirmou: “Vamos derrubar qualquer um”, quando houve um golpe na Bolívia – o país andino é o maior detentor de lítio, material das baterias de carros elétricos. Musk é dono da Tesla, maior fabricante de carros elétricos do mundo.

Já em 2024, insuflou protestos da extrema-direita britânica contra o recém-eleito governo de Keir Stirmer. Musk propagou diversas mentiras sobre imigrantes terem matado três adolescentes em Southport para instigar manifestantes xenofóbicos radicais. Robert Reich, economista norte-americano e ex-secretário de Trabalho da gestão Clinton, tenta dar a receita para deter a sanha golpista de Musk.

“Musk está transformando sua enorme riqueza — ele é a pessoa mais rica do mundo — em uma fonte de poder político para apoiar Trump e outros autoritários mundo afora. Ele apoia o republicano no Twitter e criou um comitê pró-Trump: Musk acaba de contratar um marketeiro com experiência em mobilização para ajudar o empresário”, escreve Reich.

Em uma live no Twitter no início de agosto, Trump e Musk lançaram a ideia de governar juntos se Trump ganhar um segundo mandato. “Acho que seria ótimo ter apenas uma comissão de eficiência governamental”. “E eu ficaria feliz em ajudar em tal comissão.”

O ricaço repostou uma versão falsa do primeiro vídeo de campanha de Kamala Harris com uma faixa de voz alterada soando como Harris e dizendo que ela não “sabe nada sobre como administrar um país”. Musk também usou um site criado para ajudar os usuários a votar para captar dados desses eleitores e enviar a eles anúncios anti-Harris e pró-Trump.

Reich dá uma medida do estrago causado por Musk: de acordo com um novo relatório do Center for Countering Digital Hate, Musk postou 50 fake news sobre a eleição americana de 2024 no Twitter. Elas tiveram um total de 1,2 bilhão de visualizações. Nenhuma delas tinha uma “nota da comunidade” – o sistema de verificação de fatos do Twitter.

Também foram lembrados os ataques xenofóbicos em Southport: “No Reino Unido, bandidos de extrema direita queimaram, saquearam e aterrorizaram cidades enquanto Musk espalhou mentiras sobre a morte de três adolescentes. Ele não apenas permitiu que os instigadores deste ódio espalhassem essas mentiras, mas também os retuitou”.

Pelo menos oito vezes nos últimos 10 meses, Musk profetizou uma futura guerra civil relacionada à imigração. Quando ocorreram tumultos de rua anti-imigração na Grã-Bretanha, ele escreveu em seu perfil no Twitter: “a guerra civil será inevitável”.

Comissário da UE para assuntos digitais, Thierry Breton enviou a Musk uma carta aberta lembrando-o das leis da UE contra a divulgação de conteúdo “que promova ódio, violência, desordem ou desinformação” e alertando que a UE “será extremamente vigilante” para proteger os cidadãos da UE de danos graves”.

A resposta de Musk foi um meme cujo conteúdo poderia ser traduzido como “F*DA-SE. Elon Musk se autodenomina um “absolutista da liberdade de expressão”, mas aceitou mais de 80% dos pedidos de censura de governos autoritários. Dois dias antes das eleições turcas, ele bloqueou contas críticas ao presidente turco, Recep Erdoğan.

Suas relações ​​com governos autoritários visam apenas seus negócios: “Logo após Musk sugerir a entrega de Taiwan ao governo chinês, a Tesla obteve uma redução de impostos do governo de Beijing”, relembra o colunista do Guardian.

Musk pode ser o homem mais rico do mundo. Ele pode ser dono de uma das plataformas de mídia social mais influentes do mundo. Mas isso não significa que não temos poder para detê-lo. Aqui estão seis maneiras de controlar Musk:

Elon Musk e o Roadster 2. Foto: Reprodução

1. Boicote à Tesla.

Os consumidores não deveriam torná-lo ainda mais rico e capaz de causar ainda mais danos. Um boicote à Tesla pode já ter começado. Uma pesquisa recente disse que um terço dos britânicos têm menos probabilidade de comprar um Tesla por causa do comportamento recente de Musk.

2. Os anunciantes deveriam boicotar o Twitter.

Uma coalizão de grandes anunciantes organizou tal boicote. Musk está processando-os sob a lei antitruste. “Tentamos a paz por dois anos, agora é guerra”, escreveu Musk em seu perfil, referindo-se aos anunciantes que o criticam e ao Twitter.

3. Reguladores ao redor do mundo devem ameaçar Musk com prisão se ele não parar de disseminar mentiras e ódio no Twitter.
Reguladores globais podem estar a caminho de fazer isso, como evidenciado pela prisão de Pavel Durov, fundador do Telegram, em 24 de agosto, em Paris, As autoridades francesas consideram o russo cúmplice de crimes de ódio e desinformação. Assim como Musk, Durov se autodenominou um absolutista da liberdade de expressão.

4. Nos Estados Unidos, a Federal Trade Comission deve exigir que Musk retire mentiras que possam colocar indivíduos em perigo — e se ele não o fizer, processá-lo sob a Seção Cinco da Lei FTC.

Os direitos de liberdade de expressão de Musk sob a primeira emenda não têm precedência sobre o interesse público. Dois meses atrás, a Suprema Corte dos EUA disse que agências federais podem pressionar plataformas de mídia social a retirar informações falsas — uma vitória técnica para o bem público (técnica porque a Corte baseou sua decisão na falta de legitimidade do autor para processar).

5. O governo dos EUA — e os contribuintes — têm poder adicional sobre Musk, se estiverem dispostos a usá-lo. Os EUA devem rescindir seus contratos com ele, começando com a SpaceX.

Em 2021, os Estados Unidos firmaram um contrato confidencial de US$ 1,8 bilhão com a SpaceX que inclui o lançamento de satélites confidenciais e militares, de acordo com o Wall Street Journal. Essa é boa parte da receita da SpaceX. O Pentágono também contratou o serviço de banda larga Starlink da SpaceX.

Em agosto de 2023, o Pentágono deu à unidade Starshield da SpaceX US$ 70 milhões para fornecer serviços de comunicação a parceiros do Pentágono. Enquanto isso, a SpaceX está monopolizando o mercado de lançamento de foguetes. Seus foguetes foram responsáveis ​​por dois terços dos lançamentos dos EUA em 2022 e 88% no primeiro semestre de 2024.

Ao decidir com quais entidades fechar contratos, o governo dos EUA deve considerar a confiabilidade do contratante. O temperamento impulsivo de Musk faz com que ele e as empresas que ele lidera não sejam confiáveis. O governo também deve considerar se está contribuindo para um monopólio. A SpaceX de Musk está rapidamente se tornando um.

Por que o governo dos EUA está permitindo que os satélites e lançadores de foguetes de Musk se tornem cruciais para a segurança da nação quando ele mostrou total desrespeito ao interesse público? Por que dar a Musk mais poder econômico quando ele repetidamente abusa dele e demonstra desprezo pelo bem público? Os contribuintes americanos devem parar de subsidiar Elon Musk.