Elvis, o filme, mostra o destino de todo artista que vende sua alma

Atualizado em 12 de setembro de 2022 às 16:47
Elvis e o Coronel Parker no filme de Baz Luhrmann

Intensidade. Talvez este seja o grande mote do filme “Elvis”. Sim, a intensidade de uma relação abusiva de seu tutor e empresário, o fanfarrão embusteiro Coronel – que nem militar era – Parker, interpretado por Tom Hanks, em uma interpretação mais uma vez brilhante.

Elvis era pura luz e, mesmo sem o lapidar que o deformou e destruiu, reluziria dentro de qualquer ambiente.

O embusteiro sacou a força de um fenômeno com a anuência da família que o criou em um gueto negro de Tupelo, Mississippi, até os 13 anos, lhe acolheu. 

Elvis era um típico filho da depressão americana. Nasceu em 1935, sensível e também apartado, tendo como cumplicidade a cultura black para se moldar, indo na contramão dos costumes da sociedade conservadora americana.

Seus olhos azuis, sua sensibilidade e suingue no requebrar fazem  desmoronar toda caretice caipira da América. O rock toma forma palatável. As referências e imagens dos fundadores ali estão.

Sister Rosetta Park, BB King, Little Richard e todo gospel e blues impressos. O profano e o sagrado misturados no caldeirão de imagens e sentimentos, o filme cresce, borbulha,  encanta. O rei existe e nada pode conter sua trajetória. O embusteiro se vale da ingenuidade ainda furiosa e limitações intelectuais ímpares de um menino fora de série, a mina de ouro que o sustentará doravante.

A direção de Baz Luhrman torna a narrativa do filme uma colcha de retalhos, misturando fatos reais a fantasiosas interpretações dos mesmos,  dando sempre um ar de grande ópera ou como o Coronel Parker gostava: “O Maior Show da Terra“.

Elvis foi um cometa que não pôde romper os céus, uma nave ancorada, impedida de atravessar oceanos. Essa última imagem é o resumo de sua melancólica despedida.

Um artista gigantesco que nunca saiu dos Estados Unidos em função da mesquinha liderança e ilegalidades jurídicas de Parker, a quem vendeu sua alma.

Um transatlântico de 10 andares eternamente ancorado em um balneário qualquer, a serviço das festas cafonas ali ministradas e curiosidades bizarras de um  passado idealizado.