
Na Festa do Peão de Barretos, um dos maiores eventos do agronegócio no país, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), buscou inovar na maneira de manter Jair Bolsonaro presente no palanque. Ao lado de Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG), ele levou ao palco um boneco inflável com a imagem do ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar por acusações ligadas à tentativa de golpe. Diante de 35 mil pessoas, Tarcísio afirmou que Bolsonaro “fez tudo” por ele e classificou como “grande injustiça” o processo contra seu padrinho político.
O gesto, embora aplaudido pela plateia formada majoritariamente por produtores rurais e simpatizantes da direita, levanta dúvidas jurídicas e políticas. Usar a imagem de alguém preso preventivamente em evento público, ainda que em formato de boneco, beira uma zona cinzenta da legislação. Não se trata de crime explícito, mas a estratégia pode ser vista como afronta simbólica às decisões judiciais, alimentando a narrativa de perseguição que o bolsonarismo busca sustentar para mobilizar sua base.
O movimento também carrega claro peso eleitoral. Ao se associar diretamente ao ex-presidente, Tarcísio projeta sua imagem para 2026 e tenta herdar o espólio político da extrema-direita, especialmente no interior paulista, onde Bolsonaro ainda mantém forte apelo. O cálculo é de risco: a mobilização pode fidelizar parte do eleitorado conservador, mas também cristalizar a imagem do governador como dependente da figura de Bolsonaro, justamente quando ele tenta se afirmar como alternativa nacional.
Vale lembrar que a tática de substituir o político ausente por uma representação já tem lugar no folclore eleitoral brasileiro. Em 2014, Aécio Neves, então candidato à Presidência, lançou mão de um “Aécio de papelão” para marcar presença em eventos nos quais não conseguia comparecer. O recurso não garantiu a vitória: ele acabou derrotado por Dilma Rousseff. O episódio virou piada e entrou para o anedotário da política nacional, servindo de alerta sobre os limites desse tipo de encenação.
O encontro em Barretos mostrou como a Festa do Peão, evento de forte apelo popular e tradição no interior, se transformou em vitrine política. Para Tarcísio, Zema e Caiado, a ocasião foi mais do que celebração cultural: foi uma oportunidade de posicionamento eleitoral e de reforço das alianças da direita em torno de Bolsonaro e do agronegócio.