Em busca de justiça, Lula decidiu se sacrificar mais uma vez e não pedirá regime semiaberto. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 23 de setembro de 2019 às 11:46

O ex-presidente Lula decidiu que não pedirá a progressão de regime para o semiaberto, no caso da condenação dele no processo sobre o triplex do Guarujá.

Hoje Lula completa o cumprimento de um sexto da pena de 8 anos e dez meses fixada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) com base na condenação imposta por Sergio Moro.

Lula poderia obter o benefício, mas antes teria que solicitá-lo à juíza Carolina Lebbos, a mesma que tentou transferi-lo para São Paulo, onde ficaria na penitenciária do Tremembé.

Dois fatores pesaram na decisão de Lula: a caráter político de sua prisão e a predisposição de Carolina Lebbos de submetê-lo a condições humilhantes de cumprimento da pena.

Lula já disse que não aceita tornozeleira eletrônica.”Se eu fosse bandido, poderiam colocar até pescoceira. Mas eu não sou, e não aceito a tornozeleira. Não sou pombo-correio”, afirmou na entrevista que deu ao DCM.

Sobre o fator político, ele entende que, com o semiaberto, seria retirada do STF a pressão para que seja finalizado o julgamento do HC sobre a parcialidade de Sergio Moro.

“Se Lula for para o semiaberto, só vão julgar esse HC daqui a cinquenta anos, quando Lula já nem estiver vivo e aí se reconhecerá a parcialidade de Moro”, disse uma pessoa que esteve com Lula semana passada, e conversou com ele sobre o assunto.

“Lula entendeu que é um preso político e quer o reconhecimento de sua inocência”, acrescentou.

Para qualquer um, o semiaberto seria motivo de comemoração. Mas não para Lula, embora a família e a namorada, com razão, desejem que ele deixe a Superintendência da PF.

Lula se submeterá a mais este sacrifício para que tenha direito a um julgamento justo, o que não aconteceu até aqui.

Com a anulação do processo decorrente do reconhecimento da parcialidade de Moro, o processo sobre o triplex voltaria ao ponto zero.

Com a denúncia apresentada pelo STF, sem provas, a absolvição do ex-presidente seria a decisão correta.

Mas, para isso, seria necessário um juízo justo, que parece não ser o caso da 13a. Vara Federal Criminal em Curitiba.

O caso do condomínio Solaris, a que pertence o triplex, foi julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, e todos os acusados foram absolvidos.

Se o caso de Lula não tivesse sido desmembrado, com o envio do processo para Curitiba, certamente a absolvição também o alcançaria.

Enquanto espera por um juízo imparcial, Lula continuará na cela de 15 metros quadrados, com o acesso restrito de parentes e amigos.

Não é uma afronta, é o sacrifício de quem sabe que o caso dele vai muito além das questões formais do Direito.

O ex-presidente continuará lutando por “Lula Livre”, não Lula meio livre. Para todos, será uma dolorosa lição de política.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com