Em campanha pelo impeachment de Crivella, a Globo transforma até César Benjamin em mártir. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de julho de 2018 às 13:01
César Benjamin e o ex-chefe Marcelo Crivella

Eu não tenho a menor simpatia por tipos como Marcelo Crivella — nada, zip, niente, zero — e acho a Universal um câncer para o Brasil.

Dito isto, recomendaria muita calma nessa histeria de pedir o impeachment do prefeito carioca. Sobretudo porque a Globo está com os quatro pés nessa campanha.

A Globo não entra em nada de graça. A questão é quanto custa.

Veja o caso de César Benjamin, transformando agora em herói nacional porque foi exonerado da Secretaria.

Nas redes sociais, Benjamin declarou que saiu por não ceder “à politicagem [o que ele esperava?] e aos inimigos da educação”.

Conta que foi traído por Talma Suane, sua ex-chefe de gabinete, que foi nomeada sua substituta. Poupou Crivella, citando uma “prefeitura tão fragilizada e confusa”.

Benjamin tinha falado em puxar o carro em maio e acabou voltando atrás. Teve uma série de desentendimentos públicos com o secretário da Casa Civil, Paulo Messina.

O problema foi Benjamin ter entrado nisso, não saído.

Não fez nada digno de nota, a não ser um manifesto doentio sobre racismo.

Em novembro de 2017, produziu uma versão reduzida do clássico “Não Somos Racistas”, do chefe de jornalismo da Globo Ali Kamel, em seu Facebook.

Postou que continuava “detestando a racialização do Brasil, uma criação — eu vi — do Departamento de Estado dos Estados Unidos” (!?!).

“Qualquer idiotice racial prospera. A última delas é uma linda e cheirosa atriz global dizer que as pessoas mudam de calçada quando enxergam o filho dela, que também deve ser lindo e cheiroso. Vocês replicam essa idiotice”, prosseguia.

Ele se referia a Taís Araújo e seu depoimento numa conferência em São Paulo.

“Quero que as raças se fodam”, escreveu “Cesinha”, como ficou conhecido na ditadura.

Ex-preso político, fundador do PT (saiu em 1995), candidato a vice-presidente pelo PSOL em 2006, virou mentor intelectual da campanha de Crivella.

O publicitário Lula Vieira o descreveu como “guru político” da candidatura.

Ele é o autor de um texto picareta publicado na imprensa fluminense: “Não somos políticos. Falamos tão somente em nome do nosso patriotismo, das nossas histórias de vida, do nosso compromisso com o Brasil”.

“Explicou” sua adesão a Crivella.

“Ele é evangélico. Eu não. Temos diferenças. O que temos em comum é algo que a quase totalidade da esquerda brasileira perdeu: a busca da coerência entre a palavra e o gesto, entre o discurso e a vida”.

Pobre Rio, tão perto da Globo, do Crivella e do Cesinha, tão longe de Deus.