
Nesta terça-feira (11), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou um longo texto em sua página no X para falar sobre o embate que está dividindo a extrema-direita em Santa Catarina. Nas últimas semanas, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e a deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC) vêm trocando farpas publicamente por conta da vaga para o Senado no estado.
Eduardo classificou as declarações de Ana, presidente do PL Mulher em SC, como “totalmente inaceitáveis”, principalmente por terem sido feitas em público. O parlamentar ainda criticou quem está indo contra “uma estratégia da liderança do seu grupo”:
“Este não é um post que gosto de fazer. Muito pelo contrário, busquei evitá-lo ao máximo fazendo contatos privados. Porém, após ter sido exposto publicamente estas minhas tratativas sinto-me na obrigação de esclarecer alguns pontos que deveria ser óbvio para todos que vestem a camisa de um time político. Este assunto é tão surreal que tenho dificuldade de comentar. Infelizmente, para mim e para vocês, terei que interromper o trabalho e falar obviedades que, ao que parece, ainda surpreendem alguns.
Sei que muitos acreditam que grupos políticos são estruturas anárquicas e difusas que entram, milagrosamente, em sintonia depois de uma guerra pública de opiniões. Deixem-me contar uma novidade: não são. Isso mesmo, um grupo político precisa de estrutura hierárquica e liderança estabelecida, com diretrizes e valores definidos de forma organizada e programática. É, literalmente, forjado sobre as bases de comando e da personalidade política que o estruturou.
Goste-se dele ou não, é inegável que meu pai fundou um movimento político. Ele tem um grupo político e é a liderança desse grupo. Por anos, com base em sua personalidade e visão, projetou eleitoralmente diversos nomes em cargos espalhados pelo país. Pessoas desconhecidas, ou com baixa popularidade, foram elevadas ao status de “celebridades políticas” através dessa conduta dele. A despeito do mérito pessoal de cada um, é um fato incontestável que foi ele o responsável por criar esse imenso movimento político e dar notoriedade a inúmeras pessoas.
Dito isso, quando você nos procurou, lá no início da sua jornada, para pedir nosso apoio político, você assumiu um compromisso político. Chame-me de antiquado, mas ainda acredito na ideia de honrar compromissos.
Quando você veio até nós pedir apoio, comprometeu-se a reconhecer e respeitar a liderança de quem iria projetar sua carreira política. Se não fosse assim, deveria ter deixado claro e dito:
“Vejam bem, quero o apoio de vocês, quero que projetem minha imagem e me tornem conhecido. Contudo, se eu ficar conhecido, não vou dever nada. Reservo-me o direito de me insurgir publicamente contra as escolhas e decisões de vocês.”
Tivesse dito isso, seria meio louco, mas honesto – e certamente não teria nosso apoio. O que não dá é para pedir nosso apoio e, em contrapartida, negar apoio e subordinação. Não dá para querer o benefício da liderança, mas recusar o ônus que vem com ela.
E veja, não estou pedindo que ninguém viole seus princípios morais. Pelo contrário: honre seus princípios sendo leal e honesto. Se, um dia, você achar que a liderança política à qual pertence não está mais alinhada aos seus valores, fale em público e rompa abertamente. É o que eu faria se estivesse num grupo político que se desviasse dos meus princípios.
O que não é aceitável é insurgir-se publicamente contra uma estratégia da liderança do seu grupo, uma decisão que nada tem a ver com valores morais, mas apenas com conveniência e tática política.
Dito isso, vou ser direto: as declarações da deputada estadual do PL, Ana Campagnolo, são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou e, pior, por representarem uma tremenda injustiça, já que ela usa uma régua contra meu irmão que jamais aplicou a si mesma.
Relembro que em 2018 a própria Campagnolo enfrentou resistência ao deixar o oeste catarinense e mudar-se para Joinville. Muitos queriam barrar sua candidatura sob o pretexto de que “ela não era dali”. Eu a defendi e não me arrependo. Apostei que era uma boa candidata, coerente, trabalhadora, hoje é autora de um livro importante contra o feminismo radical. O tempo mostrou que eu estava certo: foi eleita em 2018 e reeleita em 2022 como a deputada mais votada do estado.
Pois bem: o mesmo princípio que defendi para ela, defendo agora para Carlos Bolsonaro — deixemos o povo catarinense decidir se ele é ou não um bom candidato.
Não se trata de imposição, mas de coerência. Há duas vagas ao Senado e a liderança do presidente, que merece nosso respeito, escolheu Carlos para uma delas – ou será que é um sacrifício tão grande aceitar que o líder possa tomar uma decisão como esta?
Se quisermos construir um movimento forte e organizado, precisamos tratar divergências internamente, com cada um entendendo seu papel e seu lugar. Só assim a direita deixará de parecer um campo desordenado e passará a ser uma verdadeira força política nacional, pronta para entrar em campo com muito mais preparo.
Se uma liderança local, que só existe politicamente graças à liderança nacional, tem opinião diferente, que a submeta ao crivo da liderança nacional, em vez de fazê-lo publicamente em forma de insubordinação. Em tudo na vida há ordem e hierarquia: na família, nas empresas e também nos grupos políticos.
A idéia de que uma deputada estadual, cuja carreira política foi viabilizada pela liderança nacional, tenha o direito de se insurgir publicamente contra essa mesma liderança é absurda. Entenderia se ela o fizesse acreditando que meu pai não tivesse tomado uma decisão livre, mas esse não é o caso.
Sabendo que foi uma decisão plenamente voluntária é inaceitável que ela se sinta no direito de questionar a conveniência da escolha de quem viabilizou a sua carreira política.
Desculpem, não acho isso normal nem aceitável. Acho que essa turbulência passou dos limites e não agrega a ninguém.
E, para piorar, trouxe essa discussão meramente eleitoral justamente no momento em que sua liderança está prestes a ser presa injustamente. De todos os momentos possíveis, este é o pior. Seu esforço deveria estar voltado a combater a injustiça e lutar pela anistia das vítimas da tirania — não em cálculos eleitorais.
Soa extremamente desrespeitoso preocupar-se com disputa política enquanto pessoas estão sendo destruídas pela perseguição.
Espero sinceramente que todos do nosso grupo político reflitam e, sendo o caso, mudem de postura”.
2) Não se trata de imposição, mas de coerência. Há duas vagas ao Senado e a liderança do presidente, que merece nosso respeito, escolheu Carlos para uma delas – ou será que é um sacrifício tão grande aceitar que o líder possa tomar uma decisão como esta?
Se quisermos construir… pic.twitter.com/aCYqvx5NOW
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) November 4, 2025