DE LONDRES
Ladies & Gentlemen:
Boss me conta que discutem no Brasil a fórmula do Campeonato Brasileiro.
A rigor, não haveria sequer haver discussão. Não existe nada que se compare ao que Boss e eu chamamos, em nossas conversas de pub em Parsons Green, de “Kill Bill”.
Mata-mata, I mean.
Sei que, no passado, era o que faziam no Brasil. Depois, numa modernização que na verdade era e é um atraso, vieram os counted points, os pontos corridos.
Ladies & Gentlemen: os brasileiros imitaram uma receita europeia que está totalmente atrasada.
Como somos visceralmente tradicionais e conservadores, seguimos com campeonatos nacionais em pontos corridos.
Mas look: o campeonato que realmente nos eletriza, a Champions League, é no esquema “Kill Bill”, e ninguém acusa o campeão de ter menos méritos do que teria caso enfrentasse todos os times.
Os defensores dos pontos corridos ignoram um fator: nada demanda tanto dos jogadores como partidas de vida ou morte.
É aí que se distinguem adultos de crianças.
Na NBA, um grande modelo a ser seguido, os maiores jogadores se sagram exatamente nas finais.
Durante a primeira fase, é uma coisa. Na segunda e decisiva, os playoffs, é outra. Você é testado no limite, e se passa pelo teste entra na história.
Michael Jordan, por exemplo. Era nas finais que ele virava Michael Jordan: sua média de pontos sistematicamente aumentava, e ele era mais letal e grandioso que nunca.
Até sua estatura parecia se elevar.
Mata-matas têm uma vantagem adicional: prepara os jogadores para os momentos de adrenalina máxima.
Na Copa do Mundo, ficou claro que os jogadores brasileiros não tinham musculatura interior para enfrentar jornadas em que você ou mata ou é morto.
Trocar pontos corridos por mata-matas é substituir o tédio pelo suspense, a monotonia pela surpresa, o velho pelo novo.
Ladies & Gentlemen: não tenham medo de ser felizes.
Kill Bill now. Agora.
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kasumi Nakamura